O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, toma posse nesta segunda-feira, com o tema a política externa em alta. O governo brasileiro, por sua vez, avalia os discursos de Trump com parcimônia, assim como eventuais respostas a discursos contra o país. Ainda que a China deva ser o principal alvo do segundo mandato do republicano, os demais países do BRICS – que inclui Brasil, Rússia, Índia e África do Sul -, deverão estar no radar do novo governo.
Conforme discursos recentes, Trump deverá adotar um protecionismo ainda mais duro. Na política comercial, podem ser impostas tarifas universais sobre importações, além de reciprocidade em relação a tarifas impostas por outros países sobre produtos norte-americanos.
O bilionário chegou a falar em um plano de quatro anos para eliminar a dependência dos Estados Unidos em relação à China em setores essenciais e prometeu triplicar tarifas existentes. No primeiro mandato, Trump prometeu sobretaxar o aço e o alumínio importados do Brasil, o que trouxe pânico aos exportadores brasileiros, que dependem do mercado norte-americano. Em substituição, os Estados Unidos determinaram um limite para a exportação desses minérios com isenção tarifária.
Conforme o mestre em Relações Internacionais pela USP Guilherme Meireles, somente parte do discurso deverá ser colocado em prática. O pesquisador relembra que Trump afirmou que serão sobretaxados os países que insistirem na ideia de fazer transações em moeda que não seja o dólar. E vê ainda uma oportunidade para crescimento do BRICS, que discute a criação de uma moeda própria.
“A ideia é que o BRICS seja um novo polo de poder, porque inclui países com populações enormes, como China, Rússia e Índia, que representam boa parte da população mundial, e esse países poderão ir se afastando cada vez mais do dólar. O próprio presidente Vladmir Putin entendem a política internacional em disputa com os Estados Unidos. Em relação à China, vemos uma disputa, que já vem de um bom tempo, sobre quem será a nova potência global. No momento ainda é difícil estimar, porque a ideia de uma moeda do Brics ainda é recente, mas a tendência é que ela possa se viabilizar daqui uns anos”, afirmou.
Neste final de semana, o Brasil e outros nove países latino-americanos assinaram um documento que expressa “grave preocupação” com os anúncios de uma deportação em massa de imigrantes. A declaração não cita nenhum país específico, mas foi publicada pouco antes da posse de Trump.
O combate à imigração ilegal esteve no centro da campanha do republicano, que promete realizar a maior deportação da história do país. Pesquisadores estimam que Trump terá dificuldades em cumprir a promessa, considerando a importância da mão de obra estrangeira para os Estados Unidos.