Quando começou o seu amor pelo time de coração? Muitos podem até não lembrar a primeira vez que foram ao estádio ou que viram a equipe vencer um título, mas depois da escolha ninguém mais muda de clube. Ele fica o mesmo pelo resto da vida, ainda que a pessoa depois mude de cidade, de profissão ou de religião. E quem foi a influência principal? Os pais, um tio, o avô fanático pelo clube, ou simplesmente a conquista de títulos são fatores que contam para fidelizar esse amor.
Na reta final do campeonato brasileiro, com a disputa afunilando entre Botafogo, Palmeiras e Fortaleza, é normal ver torcedores desses clubes vestindo as camisas nas ruas e há chance deste movimento criar uma geração de botafoguenses, palmeirenses e tricolores. Mas apenas as conquistas não são suficientes. O São Paulino e professor Dr. em Administração e Marketing Rodolfo Ribeiro dedicou a tese de doutorado a descobrir quais são os principais fatores que influenciam uma criança na hora de escolher o time de coração. Essa escolha acontece, em geral, entre 6 e 10 anos de idade. Ele descobriu que o fator principal é a influência familiar. Os títulos também são importantes, mas, segundo ele, o fanatismo de um parente tem um peso maior.
“Uma família em que tem mais torcedores fanáticos de um determinado time, essa influência vai ser forte numa criança. O filho de um flamenguista fanático com uma flamenguista fanática, virar agora um botafoguense é a mesma chance de ter um fumante de 110 anos. Existe essa possibilidade, ela existe, mas é muito pequena. Agora, poxa, numa família ali em que ninguém liga para futebol, a chance dela se interessar por quem está vencendo, por quem está em evidência, aumenta consideravelmente.”
A advogada Camila Siqueira já está na missão de garantir uma nova geração de botafoguenses ao glorioso. Ela conta que começou a torcer para o clube em 1994 e foi fortemente influenciada pelo título brasileiro com Túlio em 1995. Agora, ela influencia a filha, de 4 anos. Embora o marido dela seja torcedor do Fluminense, a filha, pelo fanatismo da mãe, já caminha para ser botafoguense.
“E aí a gente estava na guerra, né? Para ver para quem eles iam torcer. E aí a minha filha falou para mim: ai, mamãe, eu queria uma blusa de time, mas eu queria Rosa. Eu já entrei na internet e achei uma blusa do Botafogo rosa para ela. Comecei a ganhar ali, né? Toda semana eu comprava uma blusa diferente, eu acho que hoje ela já deve ter umas 15 blusas do Botafogo uma coisa assim, eu fiz assim mesmo e confesso. Aí uma vez, ela até perguntou se podia torcer pro Fluminense, né? Aí eu falei que se ela quisesse ser melhor amiga do pai dela, ela podia, joguei sujo. Ela optou pelo Botafogo assim sabe, sem pressão.”
Já a professora de educação física Geovano Dourado, conta que na casa dela a disputa é grande. Todos moram no mesmo terreno, mas o avô torce para o Corinthians, os tios para Flamengo e Vasco, mas ela e o pai são Botafoguenses. Um novo integrante da família nasceu recentemente e já há disputa para saber quem vai fazer a cabeça e o coração do bebê.
“Inclusive o meu tio que mora comigo que é flamenguista, ele é casado com uma vascaína e eles acabaram de ter um neném. E aí a posição deles é: vamos ficar neutro, né? Ninguém vai falar nada. Quando ele tiver a idade o que ele gostar, a gente vai superar apoiar e concordar. Mas querendo ou não, né? Quando vai ficando um pouco maior, alguém vai falando não, vamos torcer para esse time, olha essa blusa eu te dou né? Tem muita questão de se você fizer isso, olha só, eu te dou essa camisa eu te dou essa meia.”
A pesquisa mais recente sobre torcidas no Brasil, feita pelas AtlasIntel, com mais de 7 mil entrevistas em todo o país, indica o Flamengo na liderança do ranking, com a preferência de 20% dos torcedores. Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Vasco fecham o top 5, sendo que o Palmeiras, atual bicampeão brasileiro, reduziu a diferença para o São Paulo.