O ex-PM Ronnie Lessa confessou que tentou matar a vereadora Marielle Franco pelo menos três meses antes da execução. Segundo a delação premiada, cujo sigilo foi levantado parcialmente nesta sexta-feira, Lessa afirmou que ela estava em um bar na Praça da Bandeira, na Zona Norte, com alguns amigos, mas ele “perdeu a oportunidade”.
No depoimento, o ex-PM disse que Edmilson Oliveira da Silva, o Macalé, soube que Marielle estaria neste bar por meio de um informante que seguia a vereadora. Macalé foi morto em novembro de 2021 e é apontado como a ponte entre os executores e os mandantes do crime.
Ronnie Lessa também disse que o endereço de Marielle era muito policiado e, por isso, a emboscada teve que ser em outro local. A execução então acabou ocorrendo na saída de Marielle de um evento na Casa das Pretas, no Estácio, bairro do centro do Rio de Janeiro, em mareço de 2018.
No dia do crime, o ex-PM recebeu uma ligação de Macalé, que afirmava que não era mais possível ficar adiando o crime, porque estava ficando “estranho”. Foi neste momento, de acordo com a delação, que Élcio Queiroz, também preso por ser mandante, foi chamado para o crime.
Ainda com relação ao caso Marielle, uma desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio e uma policial civil prestaram depoimento à Polícia Federal para se contraporem ao depoimento do delegado Rivaldo Barbosa à PF, que ocorreu nesta segunda-feira.
No depoimento, Rivaldo disse que dois delegados federais, Fábio Galvão e Jaime Cândido, foram até a desembargadora Gilzelda Leitão e a informaram que o delegado deixaria o cargo. Mas a desembargadora, que teria ido espontaneamente à PF, afirmou que “jamais tratou com os dois delegados acerca de qualquer assunto que não envolvesse investigação”.
Já a inspetora Marcela Ribas teria sido citada por Rivaldo como ciente de que haveria a intenção dos delegados em prejudicar Rivaldo “naquele negócio das empresas”. A inspetora teria dito que jamais falou com Barbosa sobre o assunto e complementou que Rivaldo deixou a Subsecretaria de Inteligência por resistir a desencadear a operação Guilhotina, que apurou suspeitas de corrupção contra policiais no RJ. Entre os citados na investigação, estava Ronnie Lessa.
A inspetora Marcela contou ainda que Rivaldo a encarregava de tarefas relativas a demandas pessoais dele, como o pagamento de contas inclusive com dinheiro em espécie.
O advogado Marcelo Ferreira, que representa a defesa de Rivaldo Barbosa, afirmou que há uma perseguição contra o ex-delegado para criar uma cortina de fumaça.
Rivaldo Barbosa foi preso no dia 24 de março e é acusado de planejar o assassinato da vereadora Marielle Franco e de atrapalhar o andamento das investigações, para garantir impunidade aos mandantes e executores do crime.