O escritor e roteirista Raphael Montes foi o convidado, desta sexta-feira (12), do programa ‘Fim de Expediente’. Em conversa com Dan Stulbach, Teco Medina e Zé Godoy, ele falou sobre seu mais novo livro “Uma família feliz”, que virou filme e está em cartaz nos cinemas pelo país.
Com mais de 160 mil seguidores no Instagram, o criador da série da Netflix “Bom Dia, Verônica” (também inspirada em um livro seu) é um dos maiores nomes da literatura nacional contemporânea. Ele ainda assina “Beleza Fatal”, primeira novela do HBO Max que chega ao streaming em breve. Ouça a entrevista completa abaixo:
Raphael Montes conta como foi o início de sua trajetória como escritor e como sua família reagiu ao desejo do carioca de trilhar o caminho das letras.
“A primeira vez que eu falei para os meus pais que queria ser escritor foi como se eu tivesse falado que queria ser um ET. Mas, serviu de incentivo. Nada como os pais serem contra a algo que você quer (…). Eu enxergo o mundo através de histórias. Penso em uma história, em um personagem. Sou apaixonado por literatura. Comecei lendo autores como, Sherlock Holmes, Agatha Christie e Pedro bandeira. Eu li e falei ‘cara eu quero escrever sobre suspense’. Na época, eu não queria ser roteirista, porque eu achava muito distante”, explica.
O autor e roteirista de ‘Uma família feliz’ também destaca, na visão dele, uma das principais diferenças entre as duas funções:
“Minha trajetória é diferente da regra. Eu vim da literatura, não queria começar sendo autor de novela das 21h. Fui entendendo que, algumas coisas que colocava no livro, eu precisava mostrar como roteirista – teria que ser algo imagético. A Netflix me deu, na época, a chance de ser o chefe da sala de roteiro, o criador da série [‘Bom dia, Verônica’; 2020]. É um cargo que eu tenho voz, por contrato”, diz.
Ainda sobre o papel do roteirista em obras do streaming ou do cinema, Raphael Montes lembra de um exemplo prático, envolvendo o ator Rodrigo Santoro, que interpreta Jerônimo em ‘Bom dia, Verônica’.
“Tem uma história curiosa sobre o Rodrigo Santoro. Estava no roteiro que eu queria o cabelo comprido, pois, para mim, era importante que parecesse uma crina de cavalo. E, aí, por questões de produção, quiseram tirar. Fizemos uma reunião e eu disse ‘gente, é importante para ser imagético’, já que ele vai cuidar de cavalos. Na hora que eu falo, argumento, todo mundo aceita”, lembra.
O escritor ainda compartilha um pouco de como é seu processo de criação.
“Preciso saber aonde eu quero chegar. É como estar com uma lanterna em um túnel no escuro. Além disso, há uma falsa ideia de que o escritor deve saber tudo sobre o personagem. É bom saber bastante coisa, ter intimidade com o personagem, mas não tudo. Vejo alguém na rua, observo; é um processo de estar com ‘antena ligada’. Às vezes, alguém fala uma coisa e percebo que pode ser um excelente diálogo em um livro”, revela. “Quando tenho as ideias, eu anoto, e, na hora, não penso muito se vai ser série, filme ou livro”, conclui.
Há quem pense que a Inteligência Artificial pode acabar com alguns cargos do mercado de trabalho. Mas, na visão do autor e roteirista de ‘Uma família feliz’, a AI não vai fazer a função de um escritor, mas pode ajudar e otimizar o ofício.
“A Inteligência Artificial pode adiantar muito o trabalho do escritor. Ela pode ser um ‘brainstorming’ para o autor e, nesse sentido, diminuir a equipe. Mas, acabar com a figura de alguém que cria e conta histórias – que é o nosso trabalho -, não”, destaca.