Piloto de aeronaves Marcos Reis fala à CBN sobre a queda do avião com 61 passageiros em Vinhedo, interior de São Paulo, após sair de Cascavel, no Paraná
O piloto de aeronaves Marcos Reis fala à CBN sobre a queda do avião com 61 passageiros em Vinhedo, interior de São Paulo, após sair de Cascavel, no Paraná. O Corpo de Bombeiros confirmou à CBN que não houve sobreviventes. Formado em Ciências Aeronáuticas, o especialista falou sobre as hipóteses do que pode ter motivado o acidente, além de compartilhar uma experiência pessoal. Ouça a entrevista completa abaixo:
Um acidente de avião não costuma ter uma causa única, destaca Marcos Reis. Assim, diversas hipóteses começam a aparecer, como a interferência de condições meteorológicas. O CENIPA, por exemplo, ressaltou que os aviões são certificados para voar, inclusive, em condições meteorológicas adversas e, deveriam ter equipamentos para fazer o degelo e evitar o acúmulo de gelo na asa.
“O avião tem um sistema completo de degelo, que evita a formação do gelo. E se, mesmo assim, congelar a asa ou congelar a pá da hélice, tem um sistema anti-ice que vai quebrar esse gelo. Será que o piloto recebeu na cabine a informação do sensor que indica que está com formação de gelo interior? Será que a falta dessa informação pode ter congelado algum comando ou a parte de trás da aeronave? A gente não sabe. Assim, fora de uma investigação, especula-se que a formação de gelo foi influente nesse acidente. Mas que fique bem claro, era uma empresa certificada, tinha pilotos bem treinados e qualificados. Só com uma investigação muito apurada, você vai chegar à miúde no que aconteceu nesse acidente. É uma informação muito específica que vai te determinar o que levou a esse acidente”, explica.
Por ora, a formação de gelo nas asas, conforme sugerido pelas condições meteorológicas no momento do voo, é apontada por estudiosos como a causa principal da pane. Piloto de avião, Marcos Reis lembra uma situação delicada pela qual passou uma vez, ao ver o gelo se formar nas alturas.
“A polícia vai abrir a caixa preta, analisar ela, para poder chegar a uma conclusão. Por experiência própria, pegar um gelo severo é uma coisa complicada. Eu já peguei um gelo severo desses e o que quebrava o gelo entrou em pane na hora. E realmente é uma situação desconfortável, porque você vê o gelo se formando. Mas era uma aeronave a jato, a gente teve recursos para desenvolver o problema, contornar o problema. É muito do tipo de formação meteorológica que tinha no ar naquele momento”, observa.
Para o especialista, o fato de ser um turbo-hélice não torna o cenário mais complicado, já que cada avião tem a sua característica de utilização. Ele também elogia a segurança e a fiscalização nos voos do Brasil.
“Você podia pegar uma aeronave a jato, falhar algum sistema e apagar uma turbina voando. Está previsto acontecer. Cada avião vai ter um procedimento específico para isso. Inclusive os turbo-hélice. O turbo-hélice foi feito para voar menores distâncias e pistas até sem pavimentação. É um trator esse tipo de motor. As companhias compram os aviões que mais se adequam ao seu tipo de operação e que se economize mais combustível e que se proteja mais o meio ambiente na questão do ruído aeronáutico e na questão da emissão de gases. O Brasil é um país que detém ótimos índices de segurança de voo. Por quê? Porque existe uma fiscalização”, ressalta.