Pulseiras que prometem proteção contra o mosquito da dengue viralizaram nas redes sociais nos últimos meses, em meio à explosão no número de casos da doença no país.
O acessório está disponível na internet em modelos simples – com repelentes químicos e óleos de citronela e capim limão – até mais “sofisticados” – como pulseiras “ultrassônicas” que supostamente emitem ondas sonoras de alta frequência para afastar mosquitos e moscas. Os preços variam entre R$ 65 e R$ 150 reais.
Mas, a “moda” não é nova no Brasil. A estudante Carolina Ferraz, de 25 anos, conta que, nos anos 2000, usava a pulseira com óleo de citronela.
“Quando eu era mais nova, eu cheguei a usar uma pulseira repelente de citronela que dizia ser contra mosquito, mosquito da dengue, e insetos, só que não adiantava de nada, não era eficaz. O que a gente usava, e usa até hoje é o repelente comum, antes de sair de casa, e dentro de casa.”
Afinal, as “pulseiras anti-dengue” funcionam?
Qualquer produto deste tipo comercializado no país precisa ser registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, para ter eficácia e segurança comprovadas. Os repelentes em geral são registrados no órgão como “cosméticos”. Mas, a Anvisa, afirma que “o uso de cosméticos ou pulseiras com repelentes” não garante proteção total contra o Aedes aegypti – são apenas uma forma “adicional” de tentar evitar a dengue.
Na consulta de produtos aprovados pela agência, a pulseira de citronela “Bye bye mosquito” está com o registro inativo desde 2017, por uma modificação na fórmula. A Anvisa afirma que qualquer inseticida “natural”, à base de citronela e outros óleos, não possui comprovação de eficácia no combate a dengue.
Em relação a pulseira “ultrassônica”, a agência sanitária diz que “equipamentos que emitem vibrações” ou outras tecnologias não podem ser regularizados junto ao órgão.
A única pulseira que possui registro ativo na Anvisa é da marca Blue Repel, fabricada pela FBM Indústria Farmacêutica – mas não há descrição do modelo do acessório.
O que dizem os especialistas
A Anvisa ressalta que a principal forma de proteger contra o mosquito da dengue é eliminando focos de água parada – verificando latas, pneus, pratos de plantas e calhas, e deixando caixas d’água fechadas.
Para o infectologista Ricardo Bonifácio, do Instituto de Ensino e Pesquisa Sírio Libanês, as “pulseiras contra a dengue” desviam o foco dos principais métodos de prevenção.
“Sobre essas pulseiras anti-dengue, acredito que elas são inadequadas em vários aspectos. Além de promoverem uma falsa sensação de proteção, acredito que elas também possam desviar o foco do que realmente interessa na prevenção da doença, que é eliminar os focos do mosquito e é também a proteção pessoal, no que concerne ao uso de repelentes para pele e também ao uso de inseticidas nos ambiente. Acredito que, portanto, se faz importante procurar por produtos com validade comprovada e com registros na Anvisa.”
O Brasil já soma mais de 5,6 milhões de casos de dengue em 2024, e mais de 3.500 pessoas morreram por causa da doença.
A CBN procurou a GPI COSTA INDUSTRIAL LTDA, responsável pela fabricação da “Bye bye mosquito” mas não teve retorno. A reportagem também tenta localizar a FBM Indústria Farmacêutica.