Escolas de todo o Brasil já se organizam para colocar em prática a lei que proíbe o uso dos celulares durante todo o período em que o aluno estiver na instituição – não mais apenas durante a aula. Algumas já estão atrás até de tecnologias para reduzirem o risco de os estudantes desrespeitarem a norma, e de o colégio ter que se responsabilizar por eventual dano ao guardar os aparelhos.
Após a sanção da lei pelo presidente Lula no início da semana, a startup Zippy informou que teve, em cinco dias, aumento de 350% na procura por uma capinha magnética – que ainda está em fase de testes – em que o celular é depositado e ela só abre quando a coordenação libera, por meio de um aparelho específico.
O dono da empresa, João Pismel, conta que ele e os sócios viram a oportunidade de criar algo para vender para as escolas assim que o tema começou a ganhar mais força no Congresso Nacional, no ano passado. Logo as capinhas devem estar disponíveis para venda.
“Elas são individuais e cada aluno deve ter a sua. Cada escola definirá se as capinhas ficarão em posse do aluno ou se as capinhas ficarão em posse da escola e os alunos, todos os dias, quando chegam na escola, pegam uma unidade para si, guardam o celular dentro da capinha, fecham a capinha e trancam o magnetizador. O aluno só conseguirá abrir a capinha do celular assim que ele encosta o celular no magnetizador”, explica.
Startup que criou bolsa magnética para guardar celular em escolas — Foto: Divulgação
E deixar na mochila, funciona?
O ministro da Educação, Camilo Santana, afirmou que os celulares poderão ficar na mochila. Isso, porém, será confirmado na regulamentação, que deve sair no próximo mês.
Para educadores, isso não funciona. A vice-presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares, Amábile Pacios, pontua que os alunos se sentem tentados a usar o celular se ele estiver com fácil acesso.
“A maior parte das escolas tinha como regra – algumas, inclusive, já fixadas na parede, no quadro ou no mural – que o celular tem que ficar na mochila. Essa era uma regra que já existia. Mas, o que a gente observa é que ela era extremamente violada, porque a tentação era maior. E mesmo porque tem o recreio, tem as aulas de educação física, por exemplo, ou eventualmente alguma outra aula que o aluno sai da sala de aula e ele carrega o seu celular, evidentemente. Então, a melhor forma de que realmente a gente consiga ajudar o estudante a vencer essa tentação de pegar o celular fora de hora seria o recolhimento dele”, defende.
O recolhimento do celular já tem sido implantado em algumas escolas. No Dromos, em Brasília, por exemplo, os aparelhos são depositados em uma caixa, que fica sob responsabilidade da coordenação, e só são devolvidos ao final da aula. O diretor da instituição, Rafael Pacios, diz que os resultados já são visíveis.
“Percebemos uma melhora imediata no nível de concentração dos alunos, na atenção. Se ele está melhor concentrado, evidentemente, o aproveitamento de aula já melhora muito. Quero destacar também a interação entre eles. Isso também é fundamental”, diz.
Menos celular, mais interação
“O aluno que não falava com ninguém, porque o tempo livre dele era olhando o celular o tempo todo sozinho, sem comunicação, ele passou a fazer amigos. Acredite se quiser, tem adolescentes que não conseguiam fazer amigos porque não sabiam nem conversar”, alerta Cristiane Tiozzo, coordenadora pedagógica da Escola Muncipal Orlando Villas Boas, do Rio de Janeiro.
Na cidade do Rio, os celulares já são proibidos desde o ano passado por lei municipal. Além de melhorar a interação, o fim do uso dos aparelhos nas escolas já mostra o aumento das notas e a redução do cyberbulliyng.
Cristiane Tiozzo, coordenadora pedagógica da Escola Muncipal Orlando Villas Boas, do Rio de Janeiro, conta que, aos poucos, pais e alunos foram entendendo a medida, mas as escolas enfrentaram desafios no início.
“A gente teve aluno que teve crise, ‘deu piti’, esperneou, porque não consegue, não desgrudava do celular nem um minuto, o celular grudado na mão o tempo todo. Mas, isso também foi acalmando. Por parte dos pais, eu tinha alguns casos pontuais de alguns que ligavam para os filhos no meio da aula para conversar”, relata.
As regras para a proibição vão sair no início de fevereiro, quando muitas escolas estarão voltando das férias.