Pesquisa encomendada pelo Ministério das Mulheres identificou 137 perfis no Youtube com conteúdo explicitamente misógino – que é o ódio ou aversão contra mulheres. Juntos, esses canais publicaram, nos últimos seis anos, mais de 105 mil vídeos. Em média, eles têm 152 mil inscritos e somam 3,9 bilhões de visualizações nos conteúdos.
Neles, há discursos de ódio, aversão, controle e desprezo às mulheres. As mais atacadas são feministas, mães solteiras e mulheres com mais de 30 anos. De maneira geral, esses canais utilizam uma série de adjetivos, como histéricas, hipócritas, burras, promíscuas, e oportunistas.
No levantamento feito pelo Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais, foram analisados 76 mil vídeos de mais de 7.800 canais brasileiros, com aproximadamente 4 bilhões de visualizações e 23 milhões de comentários. Cerca de 80% do conteúdo foi publicado de 2022 pra cá, mostrando crescimento desse tipo de vídeo. Em todos eles há expressões problemáticas em relação às mulheres. Em 32 mil títulos há temas como “desprezo às mulheres e estímulo à insurgência masculina”.
Em pelo menos 137 o conteúdo é explícito. A maior parte dos vídeos analisados promove a crença de que há uma espécie de conspiração social pela dominação feminina, onde 80% são monetizados, ou seja, rende dinheiro para os criadores de conteúdo.
As pesquisadoras acreditam que o aumento desse tipo de conteúdo se dá pela expansão das redes socais, sensação de impunidade, criação de mais recursos de monetização e efeito backlash – cada vez que mulheres conquistam mais direitos, tem reação de quem é contrário a isso.
A ministra das mulheres, Cida Gonçalves, diz que esses conteúdos ameaçam diretamente a vida das mulheres e já se vê até mais traços de crueldade nos feminicídios.
‘Facadas, são violadas sexualmente, estão matando os filhos e depois matando as mães, e nós sabemos que isso é de uma crueldade muito forte. Estão ateando fogo na casa da mulher com ela viva lá dentro, então você está mudando as características, inclusive da crueldade em que as mulheres estão sendo mortas e que as mulheres estão vivendo.’
Diante dos dados, o Ministério das Mulheres defende a regulação e responsabilização das redes pelos conteúdos, como o Supremo está julgando. O youtube não se manifestou até o fechamento da reportagem.