Alexei Navalny, o principal opositor do presidente da Rússia, Vladimir Putin, morreu na sexta-feira (16), segundo informou o serviço prisional russo. Ele estava preso desde 2021, quando retornou ao seu país depois de receber tratamento médico na Alemanha.
A morte levantou suspeitas da comunidade internacional, e diversos líderes mundiais acusaram Putin de estar por trás do caso.
Veja abaixo o que se sabe sobre o caso.
Suposto mal súbito após caminhada
O serviço penitenciário da Rússia alegou que Alexei Navalny “se sentiu mal depois de uma caminhada” e perdeu a consciência “quase imediatamente”, tendo uma morte súbita.
Também ressaltaram que médicos tentaram reanimá-lo por cerca de meia hora, mas sem sucesso, e que estão investigando o caso.
“A equipe médica da instituição [prisional] chegou prontamente, e uma equipe de ambulância foi chamada. Todas as medidas de reanimação necessárias foram tomadas, mas não produziram resultados positivos”, observaram.
Há data para funeral?
Detalhes sobre um funeral para Navalny não foram divulgados até o momento.
Após o anúncio da morte, a equipe do opositor afirmou que estava a caminho da prisão que ele estava. A colônia penal fica em uma região de difícil acesso na Rússia, com temperaturas congelantes.
Morte acontece pouco tempo antes das eleições na Rússia
O caso acontece pouco antes das eleições presidenciais da Rússia, marcadas para ocorrerem entre 15 e 17 de março, nas quais Vladimir Putin concorrerá ao seu quinto mandato.
Se vencer, Putin poderá ficar no poder até pelo menos 2030.
Mãe viu filho no dia 12: “Saudável e alegre”
A mãe de Navalny afirmou que viu o filho pela última vez na prisão na segunda-feira (12) e ele estava “saudável e alegre”, segundo comentou ao canal de notícias independente russo Novaya Gazeta.
Putin foi informado pouco tempo depois
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que Vladimir Putin foi informado sobre o caso e que cabe aos médicos determinar a causa da morte de Navalny.
“Tanto quanto sabemos, de acordo com todas as regras, o serviço penitenciário está realizando verificações e esclarecimentos”, pontuou Peskov a repórteres.
Por que Navalny estava preso?
Navalny foi condenado a 19 anos de prisão em agosto passado, depois de ter sido considerado culpado de criar uma comunidade extremista, financiar ativistas extremistas e vários outros crimes.
Naquele momento, ele já cumpria uma pena de 11 anos e meio em uma instalação de segurança máxima por fraude e outras acusações que nega.
Em dezembro de 2023, a equipe do opositor perdeu o contato com ele por quase 20 dias.
Depois de apresentar 680 pedidos para localizar Navalny, seus representantes anunciaram, no dia 25 daquele mês, que o tinham “encontrado” a mais de mil quilômetros de distância, na colônia penal IK-3, em Kharp, conhecida como “Lobo Polar”.
“As condições lá são duras, com um regime especial na zona de permafrost. É muito difícil chegar lá e não existem sistemas de entrega de cartas”, advertiu Ivan Zhdanov, diretor da fundação anticorrupção de Navalny.
Opositor teve audiência um dia antes
Alexei Navalny brincou com um juiz de um tribunal no oeste da Rússia sobre como ele estaria com pouco dinheiro na quinta-feira (15), um dia antes de ter a morte anunciada pelo serviço penitenciário russo.
O principal crítico do Kremlin compareceu ao tribunal por meio de videoconferência.
“Vou lhe enviar o número da minha conta bancária para que você possa ‘aquecê-la’ um pouco com seu enorme salário como juiz federal, porque meu dinheiro está acabando”, disse Navalny no vídeo.
“E, por causa da decisão que você tomou, esse dinheiro acabará ainda mais cedo”, destacou Navalny, acrescentando que “toda a prisão” deveria contribuir com o dinheiro.
Ocidente levanta suspeitas e culpa Putin
Representantes de países do Ocidente levantaram suspeitas sobre de Navalny. Líderes ressaltaram o fato de Navalny ter morrido após mostrar coragem e resistência diante do líder russo e do Kremlin.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que “obviamente” Navalny foi morto por Putin, assim como “milhares de outros que foram atormentados e torturados”. Zelensky diz ainda que Putin não se importa com quem vai morrer, contanto que ele “mantenha sua posição”.
O presidente do Conselho da União Europeia, Charles Michel, disse que Navalny lutou por valores de democracia e liberdade. Michel ainda afirmou que a UE responsabiliza o regime russo pela morte “trágica” dele.
Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, também responsabilizou Vladimir Putin pelo caso, destacando que que “não está surpreso”, mas “indignado” após os relatos da morte de Navalny.
Já António Guterres, secretário-geral da ONU destacou que o fato é “chocante” e que espera uma investigação completa, segundo o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.
Quem foi Alexei Navalny
Alexei Navalny tinha 47 anos e era conhecido como o principal opositor ao regime de Vladimir Putin, tendo organizado protestos de rua expondo acusações de corrupção no Kremlin e na economia russa.
Manchetes do mundo inteiro noticiaram o envenenamento de Navalny, em 2020, que o deixou em estado grave. O governo alemão disse que ele foi envenenado com um agente químico nervoso chamado Novichok, conclusão que foi posteriormente apoiada por outros dois laboratórios na França e na Suécia.
O opositor retornou à Rússia em 2021 e foi rapidamente preso por acusações que negou, dizendo que possuem motivação política, ficando detido desde então.
As preocupações com o bem-estar do opositor de Putin ficaram mais intensas depois que ele foi transferido para uma colônia penal ao norte do Círculo Polar Ártico.
Saiba mais sobre a vida de Navalny, seu envenenamento e as condições que enfrentava na prisão nesta matéria.
“A esperança morre”: população reage à morte de Navalny
Alguns moradores de Moscou reagiram à notícia da morte de Alexey Navalny descrevendo o caso como “destino”, enquanto outros disseram estarem “chocados”.
Algumas pessoas depositaram flores e uma foto de Navalny em um memorial improvisado na capital russa, segundo imagens da Reuters.
Veja mais sobre as reações nesta matéria.
Cerca de 100 pessoas foram presas em vigílias
Ao menos 100 pessoas foram detidas em toda a Rússia por participarem de vigílias e comícios após a morte do líder da oposição russa Alexei Navalny, segundo o OVD-Info, um grupo de direitos humanos que monitora a repressão russa.
Houve prisões em todo o país, incluindo em Murmansk, Moscou, Rostov-on-Don, Nizhny Novgorod e São Petersburgo.
Diversos protestos e homenagens aconteceram em capitais europeias. Saiba mais através desta matéria.