Em nova série no CBN São Paulo, o repórter Daniel Reis percorre os bairros da capital paulista conversando com moradores sobre os problemas de cada região. A reportagem circulou nesta quinta-feira (13) pelo extremo da Zona Sul de São Paulo, na região englobada pelas subprefeituras de Cidade Ademar, Capela do Socorro e Parelheiros.
Essa região abriga mais de 1 milhão e duzentas mil pessoas. Grajaú, que faz parte da subprefeitura de Cidade Ademar, é o distrito com a maior população de toda cidade.
Além dele, a região citada abriga os distritos de Cidade Ademar, Pedreira, Cidade Dutra, Socorro, Parelheiros e Marsilac.
Ela é marcada, em partes, pelo baixo Índice de Desenvolvimento Humano, que leva em conta aspectos de renda, educação e saúde. Por isso, a população demanda melhorias nessas áreas.
Grajaú e Cidade Ademar, por exemplo, estão entre os 6 piores distritos na oferta de emprego formal da cidade, de acordo com dados da Rede Nossa São Paulo.
Já Pedreira fica na penúltima posição na média de renda mensal de emprego formal. Ou seja: chega pouco dinheiro à população.
Entre os fatores que acentua o problema da reda e leva muitos a subempregos e à informalidade, os especialistas citam a dificuldade de acessar áreas mais centrais, diante da distância e da dificuldade com o transporte público.
Grajaú, Parelheiros e Marsilac estão entre os seis distritos com a maior média de deslocamento por transporte público.
Luana Sales, moradora de Parelheiros, e a Maria Vitória, que mora no Grajaú e demora 1h30 para chegar no trabalho, na paulista, reclamam da oferta de ônibus.
“A gente teve a melhoria ali da Estação Mendes, que deixa um pouquinho o trem mais perto da gente, porém falta um ônibus saindo do Terminal Parelheiros diretamente até a estação, sem contar o ônibus do Vargem Grande, e Santo Amaro que demoram demais. Eu acho que aumentar o transporte seria o melhor a fazer, porque a gente quer, tipo, sair de casa umas sete horas, o ônibus vai passar em sete e meia, em oito horas, então isso atrapalha bastante.”
É e mesmo para quem tem carro a questão do deslocamento continua sendo um problema. A Natalia Maciel cita ser necessário uma alternativa à Avenida Dona Belmira Marin, que costuma travar constantemente.
“Eu acho que também deveria ter uma alternativa da Belmira, porque ela sempre trava. Uma viagem que deveria demorar trinta minutos, de vez em quando demora uma hora e vinte, essa coisa sim, e é horrível.”
Quanto mais entramos em bairros próximos à represa Billings, mais notamos como a pobreza afeta a vida das pessoas na região. João Victor mora entre o Cantinho do Céu e o Jardim Gaivotas, uma comunidade aqui do Grajaú. Ele afirma que falta presença do poder público na região.
“Falta muita cultura, não tem um lugar para os moleques tirarem uma distração. Falta rua asfaltada, que ainda tem bastante rua de barro. Para mim o principal é isso, água. Tem casa que ainda dá de noite e acaba a água. Dá rua, tudo dá rua, dá de noite e acaba. Dá seis horas e começa a acabar a água já.”
A assistente administrativo Isabel Ribeiro Figueiredo, de Jardim Alpino, também pontua falta de acessibilidade na região.
Os moradores de Parelheiros também pedem que o setor público pense em iniciativas para fortalecer o ecoturismo, como conta o empresário Vagner Fernandes.
Gravidez na adolescência preocupa e “mães mobilizadores” tentam quebrar ciclo
No extremo da Zona Sul, o número de meninas que engravidam durante a adolescência preocupa. Parelheiros é o terceiro pior do Ranking da rede nossa São Paulo nesse quesito e Marsilac o quarto.
Mais de 11% dos nascimentos nesses distritos vem de mães com menos de 20 anos.
Esse é um dos principais motivos que fazem meninas abandonarem as escolas. Além disso, tem uma relação direta com ciclos de pobrezas.
Muitos jovens que viram pais também deixam as escolas para trabalhar e sustentar a família
Por isso, Maria Amorin, moradora do bairro há 30 anos e que foi mãe aos 19, pede mais políticas públicas por parte do município e apoio a iniciativas locais que atuam nessa área.
A situação em Parelheiros já foi pior. Nos últimos anos, o distrito teve uma leve melhora. Há cinco anos, um projeto de “mães mobilizadores”, do Insituto Brasileiro de Estudo e Apoio Comunitário, tenta combater esse problema e apoiar as jovens mães, fazendo um trabalho de casa em casa.
Elas conversam com mulheres grávidas sobre temas como saúde, alimentação saudável, desenvolvimento infantil e plano de trabalho para essas mulheres.
Alem disso, trabalham com outros públicos da comunidade, como adolescentes e crianças.
Maria Amorin já foi uma mãe mobilizadora e, atualmente, é gestora de projetos na Organização.
De acordo com ela, muitas adolescentes de regiões pobres engravidam acreditando que ter um filho a dará autoridade é respeito nas comunidades. Mas que é necessário conversar com essas meninas sobre as consequências.
Ela conta que o trabalho está presente em 6 comunidades das mais de 50 de Parelheiros.
O projeto também trabalha muito com a literatura e tem, inclusive, bibliotecas educomitarias.
Amanda Sadalla é Diretora Executiva da Serenas, uma organização sem fins lucrativos que apoia governos na construção de políticas para prevenção das violências de gênero e garantia de direitos para meninas e mmulheres.
Ela afirma que o poder público deve olhar para a educação sexual como aliada para combater a gravidez na adolescência.
Segundo Amanda, é necessário também pensar em ações , juntas, das áreas de educação e saúde.
Amanda também cita que, ao contrário do que muitos pensam, a educação sexual não estimula o sexo de adolescentes. Ao contrário, após terem ensinamentos sobre esse tema, muitos jovens retardam o início da vida sexual.