A ex-primeira dama Michelle Bolsonaro recebeu na noite desta segunda-feira (25) o título de cidadã paulistana, em um ato marcado por discursos em defesa da família Bolsonaro, implicada em investigações policiais e processos judiciais.
O evento ocorreu no Theatro Municipal, no Centro da capital paulista, mesmo após uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) proibir o uso gratuito do espaço para a cerimônia e determinar multa de R$ 50 mil em caso de descumprimento da sentença.
Autor do projeto que concedeu a honraria, o vereador Rinaldi Digilio (União Brasil) afirmou ter desembolsado R$ 100 mil, com recursos próprios, pelo aluguel do espaço.
A solenidade teve a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), da vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão, e do ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro e senador, Ciro Nogueira (PP-PI).
O prefeito Ricardo Nunes (MDB), que articula o apoio do ex-presidente à sua reeleição, também compareceu e se sentiu ao lado dele na cerimônia. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) não foi ao evento.
O ato reuniu manifestações de apoio ao ex-presidente e à ex-primeira-dama. Em discurso breve, Bolsonaro afirmou que a família passa por um “momento difícil”.
“Passamos um momento difícil, continuamos passando, mas a família é a base da sociedade. Sem ela, não chegaremos a lugar nenhum”, disse ele, que chamou Michelle de “melhor primeira-dama” do Brasil.
Ele voltou a dizer que o Brasil sofre o risco de perder a liberdade:
“Tem coisas que a gente só dá valor quando perde, e uma delas é a liberdade.”
Nesta segunda, o jornal americano The New York Times revelou que o ex-presidente ficou dois dias na embaixada da Hungria no Brasil, em Brasília, quatro dias após uma operação da Polícia Federal que apreendeu o passaporte dele. A PF vai investigar o caso.
Em um discurso com caráter de culto religioso, Michelle Bolsonaro afirmou que a família sofre perseguição: “Sofremos perseguições, distorcem falas, tentam destruir nossa reputação”, disse. A ex-primeira-dama ainda fez um balanço de atos do governo Bolsonaro na área social e terminou a cerimônia com uma oração no palco.
Ricardo Nunes também falou em perseguição contra a família, ao criticar a decisão da Justiça de proibir que o evento acontecesse no Theatro de forma gratuita:
“A gente tem que vencer algumas pessoas que insistem em fazer perseguições. (…) Tem muita gente preocupada. Você está arrastando muita gente, Michelle. A gente fala tanto na democracia, na liberdade. Por que as pessoas insistem tanto em fazer o contrário disso?”, questionou.
Vereador responsável pela honraria, Rinaldi Digilio disse que a decisão da Justiça atenta contra a democracia.
“(A decisão) Passa a impressão de que a cidade é antidemocrática. Passa a impressão de que a cidade de São Paulo é uma cidade que censura, que não quer liberdade, que não aceita o pensamento contrário. SP não é assim”, disse ele, que acusou a esquerda de tentar impedir a solenidade.
A ação contra o uso do espaço foi apresentada pela deputada federal Erika Hilton (PSOL). Ela afirma que o ato traria gastos pro município, sem ter interesse público para isso. O argumento foi acatado pela Justiça.
A Câmara Municipal afirmou que recorreu da decisão e que vai seguir discutindo judicialmente sobre a liminar. A Casa argumenta que, nesta legislatura, 40 eventos do tipo foram feitos fora da Casa e, portanto, não haveria nenhuma infração à impessoalidade.