Tenente-coronel ainda pode ter acordo de delação suspenso e perder benefícios por ter apagado arquivos e escondido informações.
O tenente-coronel Mauro Cid prestou depoimento nesta terça-feira, no mesmo dia em que a Polícia Federal prendeu militares do grupo especial “Kids Pretos” que planejavam matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF, Alexandre de Moraes, em uma tentativa de golpe de estado. Aos investigadores, Cid disse não ter tido conhecimento da trama que previa o assassinato das autoridades. Mas essa tese não convenceu os investigadores, que dizem que a versão contradiz as provas coletadas. Cid ainda está correndo o risco de ter o acordo de delação suspenso. Isso porque, além de omitir informações, ele não revelou detalhes do que sabia e, ainda por cima, apagou dados em aparelhos eletrônicos.
Como Cid formou um acordo de delação, ele é obrigado a colaborar com as investigações e não pode atrapalhar os investigadores. Por essa razão, a PF pode pedir ao STF que suspenda os termos do acordo. Isso não prejudicaria a provas coletadas que continuam mantidas no inquérito de tentativa de golpe. Mas Cid perderia os benefícios, como redução de pena e possibilidade de prisão domiciliar e uso de tornozeleira eletrônica.
Cid chegou a sede da PF nesta terça, pouco depois de 14h, e o depoimento acabou antes das 18h. Dessa vez ele foi intimado a falar sobre os arquivos que foram delegados pelo militar pouco antes dele firmar o acordo de delação premiada. As informações só foram recuperadas com ajuda de um equipamento israelense que permite o acesso a arquivos deletados de celulares. A informação foi revelada na semana passada pela colunista do G1, Daniela Lima.
O material agora vai ser anexado ao relatório que trata da tentativa de golpe de 8 de janeiro. Por conta dos novos elementos coletados pela Polícia Federal, o fechamento do relatório dos atos golpistas, que pode resultar no indiciamento de apoiadores de Bolsonaro e do próprio ex-presidente, deve ser adiado em alguns dias. O documento deve ser entregue ao Supremo Tribunal Federal até o fim deste mês.