Em entrevista à CBN, Marcela Scheid, escritora, artista visual e designer fala sobre o lançamento de seu livro “Estavelmente Instável”.
Em entrevista à apresentadora Tatiana Vasconcellos, a escritora, artista visual, muralista e designer Marcela Sheid falou sobre o lançamento do seu primeiro livro, “Estavelmente Instável”, publicado pela Editora Planeta, suas referências, autoficção e a identificação de outras mulheres com seus textos. Assista a entrevista completa e confira os destaques abaixo:
Em seu perfil do Instagram, Marcela Scheid acumula mais de 140 mil seguidores que acompanham as postagens de suas artes e poemas. Na entrevista, ela conta que demorou para se autoafirmar artista, e que se relaciona com a palavra de maneiras não convencionais para fazer sua arte — e lembra do exemplo do movimento concretista, no qual se inspira:
“Eu acho que a beleza da palavra, para além do que ela significa, ela também é um objeto gráfico. Ela também compõe ali uma questão gráfica muito interessante. E eu gosto muito da poesia concreta e do concretismo como movimento artístico em si. Então, Lenora de Barros, Mira Schendel, são artistas que me formaram também muito como artista. Que trabalhavam muito a palavra numa época em que nenhuma mulher podia trabalhar a palavra nesse lugar. Porque trazia ali também um poder intelectual diferente. Quando você coloca uma palavra, traz um poder intelectual da poesia. Que, durante muito tempo, foi muito masculino. Então, eu queria sempre ter essa brincadeira com as palavras.”
Marcela Scheid também fala sobre a criatividade na forma visual da palavra como um recurso para chamar a atenção de seus leitores e fazer com que eles criem interpretações diferentes:
“Eu me lembro que, nas primeiras vezes em que eu comecei a postar, as pessoas me escreviam dizendo que não conseguiram ler, que não entenderam. E eu achava isso o máximo, porque era isso mesmo que eu queria. Quando a gente faz uma diagramação diferente, a gente força a pessoa a prestar atenção. Assim, a minha ideia com o meu trabalho não é dar a interpretação para a pessoa. É fazer com que a pessoa tenha uma interpretação própria também. E para ela ter uma interpretação própria, ela precisa prestar atenção.”
A artista conta que as inspirações para o livro são tanto individuais quanto coletivas, e que se alegrou de receber mensagens de mulheres que não conseguiam nomear seus sentimentos e se identificaram com ideias do livro:
“São emoções individuais e também de coisas que acabam aparecendo de amigas e outras mulheres, e também de outras coisas que eu leio. Elas não são só individuais, é por isso que digo que o livro é uma autoficção, na verdade. Porque tem coisas individuais, mas também tem coisas que já não são mais. E que também nunca foram. Mas eu comecei a escrever num propósito de tirar as coisas um pouco de mim. Porque eu sempre fui uma pessoa que guardava muito, e isso me fazia muito mal. Eu não conseguia falar, eu não conseguia dizer não. Eu era muito cabeça baixa e ficava lá sofrendo com as coisas angustiadas dentro de mim. E aí, na terapia, apareceu essa questão de começar a escrever um pouco, colocar pra fora. E foi assim que nasceu a minha escrita. Eu comecei a postar e aí eu vi que outras mulheres falavam ‘nossa, tô pensando muito nisso, mas nunca tive coragem de falar isso’. E isso foi ficando cada vez mais bonito. De ver que outras mulheres também sentiam isso e que muitas vezes não conseguiam nomear.”