A troca na presidência dos Estados Unidos, marcada para 20 de janeiro de 2025, envolve uma série de ritos e protocolos coreografados para que nada saia errado durante o evento que será acompanhado em todo o mundo. Entre as preocupações, está a segurança nacional.
Garantir uma “passagem de bastão” sem intercorrências, em caso de um ataque inimigo de larga escala, é uma das prioridades dos americanos em um momento como esse.
Quem acompanha os passos do presidente dos Estados Unidos pode ter notado que, além de assessores e agentes do Serviço Secreto, o chefe de Estado sempre é acompanhado por um oficial das Forças Armadas cuja função é a mesma há décadas: carregar uma grossa mala de mão e estar sempre ao alcance do presidente.
A chamada “mala nuclear” é conhecida por outro nome no governo americano: “football”, bola de futebol americano, em tradução livre. Em filmes e séries de televisão, ela é mostrada como um acessório que garante que o presidente viabilize um ataque nuclear contra alguma superpotência, em caso de uma ofensiva inimiga anterior.
Mesmo assim, a mala de couro não contém um aparelho com botões, telas e comunicadores que permitem que o presidente dispare mísseis com um simples toque do dedo. A explicação real sobre o que a “football” carrega é, na verdade, um pouco menos empolgante. De acordo com o especialista em segurança nuclear, Stephen Schwartz, “existem apenas papéis lá dentro, e detalhes de todas as opções pré-planejadas que existem para o presidente lançar um ataque nuclear, sob vários cenários.”
Schwartz afirma que a mala acompanha o presidente 24 horas por dia, sete dias por semana. “Ela está sempre a poucos segundos de distância de onde ele estiver”, complementa.
Além dos presidentes, seus vices também são acompanhados de um oficial que carrega uma mala idêntica, no caso de o líder principal estar incapacitado de tomar a decisão de um eventual ataque.
Para autorizar a ofensiva, o presidente precisa fornecer um código aos responsáveis por disparar os mísseis. É um mecanismo de segurança para comprovar que quem está autorizando o ataque é de fato o líder americano. O código alfanumérico está em um cartão, chamado de “biscoito” e que pode ser guardado na carteira ou no bolso do presidente.
Em 20 de janeiro de 2025, dia da posse, quando o novo presidente assumir as responsabilidades do cargo, ele também vai receber a mala. A expectativa é que o protocolo seja seguido à risca. A mala deve passar do oficial de Joe Biden para o de Donald Trump dentro do Capitólio, pouco antes do juramento. Dessa forma, quando o republicano estiver empossado, ele já terá a capacidade de autorizar um ataque em uma eventual emergência.
Na posse anterior, Trump decidiu não participar da cerimônia, quebrando uma tradição nos Estados Unidos. Ele dizia, sem provas, que a vitória do oponente era resultado de fraude e, por isso, decidiu ficar de fora da troca de comando. O problema é que isso criou uma situação única em relação à troca da mala nuclear.
O republicano deixou a Casa Branca pela manhã rumo à Flórida, antes da cerimônia e, naquele momento, ainda era o comandante das Forças Armadas. Mesmo que por poucas horas, o presidente não pode ficar desacompanhado do oficial que carrega as instruções nucleares porque, no caso de uma emergência, ele não poderia ordenar o disparo de mísseis.
Por isso, quando Trump deixou a capital americana na manhã do dia 20 de janeiro, ele foi acompanhado pela mala. Ao meio-dia do horário local, quando segundo a constituição norte-americana começa o mandato do novo presidente, o código de Trump para autorizar um ataque foi anulado, e o novo líder, Joe Biden, assumiu o controle sobre o arsenal.
“Mala nuclear” em risco
A segurança sobre a “mala nuclear” chegou a ser questionada quando, em 6 de janeiro de 2021, apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio para tentar impedir a certificação de Joe Biden após a vitória dele na eleição. A cerimônia foi presidida por Mike Pence, então vice-presidente, que também é seguido por um oficial cuja função é carregar a “football”. Durante a revolta, os militantes (muitos enfurecidos com Pence) chegaram a 30 metros da mala, o que preocupou autoridades da defesa americana.
O episódio levou o Pentágono a anunciar uma revisão dos protocolos de segurança empregados em torno da bolsa, que guarda as informações mais sensíveis à segurança nacional dos Estados Unidos.
Anos antes, ainda na gestão Trump, outra ocorrência colocou a mala nuclear em risco. Em 2017, durante uma viagem oficial a Pequim, houve uma confusão entre agentes do serviço secreto americano e seguranças chineses. Os guardas de Xi Jinping tentaram impedir que a bolsa entrasse na sede do governo e acabaram sendo derrubados no chão pelos agentes americanos.