Parece narrativa de filme, mas não é. Essa é a história de Iraci Feitosa, de 67 anos, que nunca desistiu de encontrar o filho, Francisco Josenildo, que ficou desaparecido por 34 anos.
A saga começou em 1987, quando Josenildo foi raptado aos 11 anos, após a morte do pai em Rio Branco, na capital do Acre.
Naquela época, Josenildo, o mais velho de sete irmãos, queria vingar a morte do pai. Durante a venda de salgados em frente ao hospital onde sua mãe trabalhava, ele foi raptado por uma mulher desconhecida.
“Ele encontrou com essa mulher que disse que era a mãe dele, que não era eu. Ele botou na cabeça que queria vingança pela morte do pai dele. E eu tentava tirar da cabeça dele, dizendo: ‘seu pai não vai voltar se você fizer isso, você vai complicar sua vida. Você é criança, pare com isso’. Ela levou ele e ele fugiu dela, e daí ficou andando para cima e para baixo”, relata Iraci.
A mulher desconhecida prometeu levar Josenildo até o assassino do pai, para que ele pudesse se vingar.
“Foi isso que me levou a acompanhá-la. Eu disse: ‘então, eu vou’. Ela prometeu que me levava. Chegamos na rodoviária, permanecemos em um hotel. No dia seguinte, a gente pegou o ônibus e fomos para Porto Velho”, lembra Josenildo
Chegando na capital de Rondônia, eles seguiram viagem até Florianópolis, onde ela o abandonou. A identidade e paradeiro da mulher que dizia conhecer a história de Josenildo não foram encontrados até hoje. E o pequeno rapaz passou anos vagando, pegando caronas, se arriscando em caminhões, até retornar ao Acre, sete anos depois.
“Aconteceu tanta coisa na minha vida que fiquei com o intuito de voltar para o Acre, porque eu tinha lembrança de Porto Velho. Fiquei procurando voltar. Pedia para umas pessoas para me trazer. Algumas não queriam, então eu subia nas carretas, nos estepes e, para onde Deus me levava, eu ia. Fiquei rodando até chegar no Acre de volta”, lembra.
Enquanto isso, Iraci seguia na busca pelo filho primogênito. Ela conta que a procura por Josenildo foi desesperadora.
“Pedi muito a Deus e a Nossa Senhora. Eu andava por todo canto, na PM, pedindo que trouxesse meu filho de volta”
Durante esse período, Josenildo viveu com várias famílias, mas encontrou um lar definitivo com o seringueiro Sebastião Tigre e sua esposa, Zinha. Eles o registraram e cuidaram dele como filho.
Anos depois, Zinha, já doente, incentivou Josenildo a procurar sua mãe biológica, mesmo após sua morte. Em 2014, um sonho o fez lembrar de sua família biológica e ele decidiu reiniciar a busca.
“Mesmo eu não gostando, ela conversava comigo dizendo que eu tinha que saber da minha história, que ninguém ia me tirar dela, até porque ela já tinha me registrado”, relembra Josenildo.
O reencontro aconteceu quando Josenildo passou em frente à casa de uma tia em Rio Branco e foi reconhecido. Logo após, um exame de DNA confirmou sua identidade, e a emoção tomou conta de todos.
Iraci quase não resistiu à emoção e teve que ser socorrida, mas estava feliz por finalmente ter seu filho de volta.
“Quando eu vi e abracei ele, eu não aguentei, desmaiei. Fui pro hospital, mas voltei. Estamos todos felizes. Agora, somos uma família unida, pobres, mas humildes. Um apoia o outro. Graças a Deus, estamos com essa vitória. Ele já voltou com esposa, quatro filhos. Aumentou foi a família”, celebra Iraci.
Casado há 16 anos e pai de quatro filhos, Josenildo agora está se adaptando à nova realidade, incluindo seu nome e idade verdadeiros. A data oficial de nascimento é 1º de julho de 1975, o que lhe devolveu cinco anos de vida.
“É como se estivesse dentro de uma prisão e, de repente, ganhasse a liberdade. O que passei a vida inteira preso achando que era uma coisa, mas, na verdade, a história era outra. Agradeço a Deus por ter me permitido viver isso. É inexplicável”, diz Josenildo.
Iraci, que sempre acreditou no reencontro, celebrou e deixou uma mensagem para todos nós: a esperança não é a última que morre, é a primeira que nasce quando tudo parece perdido.
“A gente nunca deve desistir porque as pessoas me diziam: ‘a senhora está enganada, ele deve ter morrido’. Mas, eu dizia: ‘olha, meu coração dizia que ele não tinha morrido e eu vou conseguir ver meu filho, embora seja a última coisa que eu faça na vida'”