O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou neste sábado (17), durante a 37ª Cúpula da União da Africana, em Adis Abeba, na Etiópia, sobre a necessidade de mudanças no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Durante seu discurso, Lula disse que a solução para crises como a da Palestina só serão solucionadas com a criação de uma “ONU fortalecida, e que tenha um Conselho de Segurança mais representativo, sem poder de veto e com membros permanentes da África e da América Latina”.
Atualmente, têm poder de veto e presença permanente no Conselho os Estados Unidos, a China, a Rússia, a França e o Reino Unido, apenas.
“Precisamos mudar urgentemente a representação dos países em desenvolvimento nos fóruns multilaterais, nas instituições que foram criadas para que a gente pudesse tentar consertar o mundo depois do pós-guerra”, afirmou Lula. “Hoje, essas instituições não ajudam mais. Pelo contrário, sufocam os países.”
O presidente falou, ainda, sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia, em decorrência desde fevereiro de 2022.
“Há dois anos, a guerra na Ucrânia escancara a paralisia no Conselho”, disse o mandatário. “Não haverá solução militar para esse conflito. É chegada a hora da política e da diplomacia.”
Lula pediu criação de Estado palestino
Ainda durante o discurso realizado na Cúpula, Lula falou sobre o conflito entre Israel e Hamas. O presidente condenou os ataques do grupo armado e pediu a liberação dos civis israelenses, mas também rechaçou a resposta dada por Israel, que definiu como “desproporcional”.
“Ser humanista hoje implica condenar os ataques perpetrados pelo Hamas contra civis israelenses, e demandar a liberação imediata de todos os reféns”, disse Lula. “Ser humanista impõe igualmente o rechaço à resposta desproporcional de Israel, que vitimou quase 30 mil palestinos em Gaza – em sua ampla maioria mulheres e crianças – e provocou o deslocamento forçado de mais de 80% da população”.
Em seguida, o governante disse enxergar a criação de um Estado palestino como a única solução para a guerra.
“A solução para essa crise só será duradoura se avançarmos rapidamente na criação de um Estado palestino. Um Estado palestino que seja reconhecido como membro pleno das Nações Unidas”, afirmou Lula.
Presidente falou em “dívida histórica” com a África
No evento, Lula reforçou o desejo de cooperação com os países do continente africano em questões ambientais, educacionais e de saúde. Segundo o presidente, trata-se de uma “dívida histórica” a ser paga.
“Tudo, muito ou pouco, que o Brasil tem, eu quero compartilhar com os países africanos porque nós temos uma dívida histórica de 300 anos de escravidão e a única forma de pagar é com muita solidariedade e muito amor”, afirmou o mandatário.
Algumas medidas, como a ampliação do número de bolsas ofertadas para estudantes africanos em universidades públicas, também foram anunciadas durante o discurso na Cúpula.
“Estamos dispostos a desenvolver programas educacionais na África e a promover intenso intercâmbio de professores e pesquisadores”, disse Lula. “Quero igualmente estender nossa parceria para a área da saúde. Há muito a aprender com as estratégias sanitárias de ambos os lados, e a possibilidade de estruturar sistemas públicos robustos e de alcance amplo”.
“Cuidar também da saúde do planeta é nossa prioridade”, acrescentou o presidente. “Em conjunto com parceiros africanos, o Brasil quer desenvolver e construir uma família de satélites para monitorar o desmatamento”.
Foi anunciada, ainda, a criação de um posto avançado de cooperação junto à União Africana em setores como pesquisa agrícola, saúde, educação, meio ambiente e ciência e tecnologia.
“Nossa representação diplomática em Adis Abeba contará em breve com funcionários de órgãos governamentais como a Agência Brasileira de Cooperação, a EMBRAPA e a FIOCRUZ, nossos órgãos de pesquisa e desenvolvimento em agropecuária e saúde”, afirmou Lula.