Há “motivos razoáveis” para acreditar que Israel está “cometendo o crime de genocídio contra os palestinos como um grupo na Faixa de Gaza”, disse a Relatora Especial da ONU para os direitos humanos nos territórios palestinos.
Francesca Albanese fez as declarações nesta quarta-feira (27), após apresentação do seu último relatório, intitulado “Anatomia de um Genocídio” ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, feita na segunda-feira.
Falando em coletiva de imprensa, Albanese disse: “Israel cometeu três atos de genocídio com a intenção necessária: matar membros do grupo, causar sérios danos físicos ou mentais aos membros do grupo e infligir deliberadamente ao grupo condições de vida calculadas para provocar sua destruição física, no todo ou em parte”.
Israel pontuou, por sua vez, que “rejeita totalmente” o relatório, que afirmou “envergonhar” o Conselho de Direitos Humanos.
Não é “nenhuma surpresa que a premissa deste relatório seja que a criação do Estado Judeu em 1948 foi um ato de ‘colonialismo de colonos’, e o genocídio é uma ‘parte inerente’ desse ato”, comentou a Missão Permanente de Israel para as Nações Unidas em Genebra em um comunicado no X na segunda-feira.
A declaração também culpou a especialista da ONU por “deslegitimar a própria criação e existência do Estado de Israel”.
Albanese destacou que houve “massacre flagrante e sistemático de civis palestinos”, bem como “o uso de armamento ilegal, a destruição total de infraestrutura civil vital, incluindo o ataque deliberado a todos os hospitais de Gaza, e a fome provocada pelo homem nos palestinos”.
“O desdobramento da monstruosidade é acompanhado por uma narrativa anti-palestina generalizada e pela desumanização que emana dos níveis mais elevados da sociedade israelense, incluindo oficiais de alto escalão com autoridade de comando e frequentemente refletida nas ações dos soldados no terreno”, disse Albanese na coletiva de imprensa.
Ela acrescentou que isso refletia a intenção “de destruir no todo ou em parte, que é o que distingue o genocídio de outros crimes de atrocidade”.
A relatora especial da ONU concluiu que “a única inferência razoável que pode ser tirada” é uma “política estatal israelense de violência genocida contra o povo palestino em Gaza”.
Ela pontuou que uma das “principais conclusões” do relatório foi que “a liderança executiva e militar de Israel e os soldados distorceram intencionalmente os princípios ‘jus in bello’, subvertendo as suas funções de proteção, numa tentativa de legitimar a violência genocida contra o povo palestiniano”.
“Jus in bello” (justiça na guerra) é o termo latino que se refere às leis internacionais que regem a forma como a guerra é conduzida.
A missão diplomática de Israel em Genebra, na sua resposta, também disse: “a própria tentativa de levantar a acusação de genocídio contra Israel é uma distorção ultrajante da Convenção do Genocídio”.
“A guerra de Israel é contra o Hamas, não contra civis palestinos”, acrescentou.