O Itamaraty condenou o bombardeio russo que atingiu o hospital infantil Ohmatdyt, na capital ucraniana de Kiev, nesta segunda-feira (8). O ataque ocorreu em meio à uma bateria de mísseis direcionados a várias cidades da Ucrânia.
Ao menos 29 pessoas, incluindo três crianças, foram mortas nas ofensivas à capital, disse a administração militar da cidade de Kiev. Dessas, duas pessoas foram mortas e pelo menos 16 ficaram feridas no ataque ao hospital infantil. Pelo menos outras dez morreram em ataques concomitantes pelo país.
“O governo brasileiro reitera sua condenação a ataques em áreas densamente povoadas, especialmente quando acarretam danos a instalações hospitalares e a outras infraestruturas civis, e expressa sua solidariedade às vítimas e a seus familiares”, disse o ministério em comunicado, sem citar a Rússia.
A Rússia nega autoria pelo ataque ao hospital e afirma que a destruição foi causada por um sistema defeituoso de defesa aérea da Ucrânia.
O Itamaraty pediu a ambas as partes do confronto que o direito internacional humanitária seja respeitado, assim como a proteção especial conferida a instalações e unidades médicas, “que devem ser respeitadas em todas as circunstâncias”.
“Até que os atores relevantes se engajem de forma genuína e eficaz em negociações de paz, o Brasil reitera o apelo para que três princípios para a desescalada da situação sejam observados: não expansão do campo de batalha, não escalada dos combates e não inflamação da situação por qualquer parte”, continuou o comunicado.
A instalação é o maior centro médico infantil da Ucrânia e tem sido vital no cuidado de algumas das crianças mais doentes de todo o país. Todo ano, cerca de 7.000 cirurgias – incluindo tratamentos para câncer e doenças hematológicas – são realizadas no hospital, de acordo com o ombudsman de direitos humanos da Ucrânia, Dmytro Lubinets.
Imagens do hospital infantil mostram voluntários trabalhando com a polícia e serviços de segurança para vasculhar os escombros. A equipe trabalhava para levar as crianças para um local seguro após o ataque.
O ministro da saúde da Ucrânia, Viktor Liashko, disse que unidades de terapia intensiva, departamentos de oncologia e unidades cirúrgicas foram danificados.
Mais de 600 pacientes foram retirados do hospital, com mais de 100 transferidos para outras unidades de saúde, disse Liashko, de acordo com a agência de notícias estatal Ukrinform.
Os ataques foram parte de um raro bombardeio, que aconteceu durante o dia, em cidades ucranianas, algumas das quais são áreas densamente povoadas, longe das linhas de frente.
O bombardeio russo aconteceu um dia antes do presidente dos EUA Joe Biden sediar uma importante cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Washington, onde novos anúncios sobre o apoio militar, político e financeiro da aliança para Kiev são esperados.
“É fundamental que o mundo continue a apoiar a Ucrânia neste momento importante e que não ignoremos a agressão russa”, disse Biden, observando que se encontraria com Zelensky durante a cúpula “para deixar claro que nosso apoio à Ucrânia é inabalável”.
“Juntamente com nossos aliados, anunciaremos novas medidas para fortalecer as defesas aéreas da Ucrânia, para ajudar a proteger suas cidades e civis de ataques russos”, acrescentou.
O ministério da defesa da Rússia afirmou que Moscou atacou “instalações industriais militares da Ucrânia e bases aéreas das forças armadas ucranianas” usando armas de longo alcance e alta precisão.
Testemunhas relatam desespero
As janelas foram quebradas e os painéis arrancados. Pais segurando bebês saíram para a rua, atordoados e soluçando.
“Ouvimos uma explosão e depois fomos cobertos por destroços”, disse Svitlaka Kravchenko, 33 anos, à Reuters depois que ela e seu marido, Viktor, saíram do abrigo.
O bebê de dois meses saiu ileso, mas Svitlana sofreu cortes e o carro ficou totalmente enterrado sob os escombros do prédio destruído, do outro lado do pátio da ala principal.
“Foi assustador. Eu não conseguia respirar, estava tentando cobrir (meu bebê). Eu estava tentando cobri-lo com esse pano para que ele pudesse respirar”, relatou.
Leia a nota do Itamaraty na íntegra
“O governo brasileiro condena o bombardeio que atingiu hoje o hospital infantil Ohmatdyt, em Kiev, que resultou em número expressivo de vítimas fatais, incluindo crianças. O governo brasileiro reitera sua condenação a ataques em áreas densamente povoadas, especialmente quando acarretam danos a instalações hospitalares e a outras infraestruturas civis, e expressa sua solidariedade às vítimas e a seus familiares.
O Brasil exorta as partes no conflito a cumprirem suas obrigações perante o direito internacional humanitário, inclusive a proteção especial conferida a instalações e unidades médicas, que devem ser respeitadas em todas as circunstâncias.
O governo brasileiro continua a defender o diálogo e uma solução pacífica para o conflito na Ucrânia. Até que os atores relevantes se engajem de forma genuína e eficaz em negociações de paz, o Brasil reitera o apelo para que três princípios para a desescalada da situação sejam observados: não expansão do campo de batalha, não escalada dos combates e não inflamação da situação por qualquer parte.”
(Com informações de Gustavo Zanfer, Svitlana Vlasova, Daria Tarasova-Markina, Maria Kostenko, Victoria Butenko e Lauren Said-Moorhouse, da CNN)