Pet estava com uma grave lesão conhecida como “sequestro de córnea”. Transplante entre animais é pouco conhecido no Brasil e ainda depende de regulamentação.
Uma cirurgia inusitada deve evitar a perda da visão da gato Willy, que tem 4 anos de vida. Ele recebeu o transplante da córnea da cadela Maya, que morreu após um ataque de abelhas, no mês passado, em Arniqueiras, no Distrito Federal. O gato persa Willy estava com uma grave lesão conhecida como “sequestro de córnea” que provoca uma espécie de necrose, com risco de perfuração do olho. E o tutor de Maya, Adão Macedo, autorizou a doação do órgão que chegou no momento certo para o gatinho.
A cirurgia foi feita pela veterinária Ana Carolina Rodarte um dia após a morte de Maya. Ela explica que o transplante de córnea entre gatos ou entre um gato e um cachorro, pode salvar a vista do animal, mas ainda é muito pouco divulgado para os tutores e nas clínicas veterinárias. Apesar de ser um procedimento raro, segundo a médica, geralmente os tutores que conhecem a possibilidade de doar a córnea do pet depois do óbito, abraçam a causa e se sentem felizes em poder ajudar outro animal.
“Quase 100% dos tutores que abordei pra pedir uma córnea me cederam e ficaram muito sensibilizados. E foi o que aconteceu com a Maya porque o tutor não sabia. Aí eu pedi a córnea e ele aceitou fazer a doação de córnea. No outro dia eu fiz a cirurgia do Willy e mandei uma mensagem agradecendo pelo ato dele de bondade porque realmente foi um ato de bondade”.
Cadela Maya — Foto: Adão Macedo/Arquivo pessoal
Além da dificuldade de encontrar doadores, no Brasil não há regulamentação sobre os transplantes de órgãos de animais entre espécies diferentes e até entre as mesmas espécies. O presidente da Comissão Nacional de Bioética do Conselho Federal de Medicina Veterinária, Wesley Ribeiro, avalia que são necessários estudos e debates para a regulamentação no Brasil. Ele explica que cabe ao médico veterinário avaliar a necessidade do paciente.
“A ausência de uma lei específica não significa que a ética pode ser deixada de lado. Pelo contrário, é essencial que a comunidade científica debata esse tema com seriedade e compromisso. Na clínica a responsabilidade técnica recai sobre o veterinário que deve considerar os benefícios e os riscos de cada procedimento”.
Quatorze dias depois da cirurgia, Willy está se recuperando bem e deve voltar a ter os olhos saudáveis, graças à córnea da cadela Maya.
* Sob a supervisão de Meire Bertotti