As escritoras e intelectuais mineiras Lélia Gonzalez e Carolina Maria de Jesus foram homenageadas com duas esculturas no Parque Municipal de Belo Horizonte, neste domingo. As obras foram confeccionadas em bronze e em tamanho real, representando as autoras uma ao lado da outra e com livros nas mãos. As esculturas foram instaladas em frente ao Teatro Francisco Nunes.
A homenagem às duas personalidades mineiras foi idealizada por representantes de movimentos de mulheres negras de Minas, para lembrar o legado na literatura e a valorização da cultura afro-brasileira deixados pelas duas autoras, como destaca a assessora de articulação da Secretaria e da Fundação Municipal de Cultura de BH, Arminda Aparecida de Oliveira.
“É muito importante porque a presença de mulheres negras hoje na sociedade vem enfrentando cada vez mais o desafio de se concretizar enquanto pessoas importantes na formação do Brasil, na formação de Belo Horizonte. Então, o reconhecimento dessas duas mulheres é uma forma de fortalecer e de reverenciar o trabalho de grandes mulheres negras pensadoras, escritoras, cada uma no seu trabalho e na sua forma de agir na nossa sociedade”, afirmou.
As obras foram confeccionadas pelo artista Léo Santana, que é o autor de outras esculturas que representam escritores mineiros no Circuito Literário de Belo Horizonte. Segundo ele, os trabalhos levaram quatro meses, pois o objetivo era dar realismo às esculturas. O escultor afirmou, ainda, que quis simular um debate literário entre as duas escritoras, que são de gerações diferentes.
“Essa é a cena que imaginei, porque as duas são de tempos um pouco diferentes, então eu quis fazer isso, falei vamos juntar as duas. Então ali está Carolina mostrando o livro e a Lelia olhando, aí, de repente, você chama as duas e as duas levantam o rosto e olham para você, como se diz eu parei a cena ali, recortei e é o que está lá. É um encontro eternizado”, disse.
A inauguração das esculturas foi acompanhada por familiares das autoras. Entre elas, Vera Eunice de Jesus, filha de Carolina de Jesus, que ficou eternizada na obra da mãe “Quarto de Despejo”, em que a autora relata em um diário a vida de miséria na favela do Canindé, em São Paulo, na década de 1950. Para Vera, a escultura é uma forma de deixar vivo o legado de Carolina na literatura, que em 2024 faria 110 anos de nascimento.
“Minha mãe, o orgulho dela era ser mineira, porque ela era de Sacramento. Dessa forma, ela está voltando para cá empoderada, brilhando através de uma estátua, que para mim é uma homenagem assim mor. Então é esse o sentimento que ela saiu meio desgostoso aqui, mas volta empoderada e esse é meu objetivo levar a Carolina Maria de Jesus em todos os lugares e empoderada”, contou.
Melina de Lima é neta de Lélia Gonzalez e coordenadora de articulação do Ministério da Igualdade Racial. Ao acompanhar a inauguração das estátuas, ela lembrou que o mês de julho marca os 30 anos da morte da avó.
“Vó Lélia era a força, respeito, trabalho e estudo. Eu lembro sempre dessa mulher potente, que depois eu vim a saber que era Lélia Gonzalez, mas era a minha vó Lélia. No próximo 10 de julho agora, daqui a duas semanas, a gente vai ter esse momento de lembrar os 30 anos do falecimento dela. Ano que vem, a gente tem os 90 anos que ela Faria. Então são datas emblemáticas, mas Lélia Gonzalez se fez eterna”, relatou.
Assim como as demais esculturas do Circuito Literário de Belo Horizonte, as de Lélia Gonzalez e Carolina Maria de Jesus foram instaladas com sinalização interpretativa e conteúdo publicado em plataforma digital. Por meio de QR Codes, que serão aplicados nas placas, os visitantes poderão interagir com as obras e acessar os conteúdos educativos em português e inglês.