Ano novo e… nova geração: 2025 marca o início da geração Beta, dos bebês nascidos até 2039, que vão crescer em um mundo onde o digital e o real estão completamente integrados.
A inteligência artificial vai estar presente em tudo: aprendizado, relações e, até, nas mais simples escolhas do dia a dia, como ajustar o cardápio do jantar com base no que tem na geladeira ou sugerir a roupa ideal para o clima e o tipo de compromisso. Mas, o que podemos esperar dessa geração que nunca vai saber, na prática, como a vida funcionava antes de toda essa tecnologia?
A Doutora em Ciências da Informação e especialista em gerações Thais Giuliani explica que, agora, a geração Beta já vai nascer em um mundo moldado pela inteligência artificial e por desafios globais, como as mudanças climáticas.
“É a primeira geração que vai nascer com a inteligência artificial, uma grande transformação na sociedade. Essa geração vai herdar de nós talvez um dos principais desafios que enfrentará no mundo: as questões climáticas. Além disso, cada vez mais viverá em um mundo virtual. É uma geração que terá que enfrentar o desafio de aprender a se relacionar pessoalmente, face a face, algo que já é uma dificuldade identificada na geração Z e que a Alfa, posterior à Z, também herdou”, detalha.
O empresário Gustavo Melo, de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, já lida com os desafios de criar crianças com limites tecnológicos. Pai do Toni, de um ano e três meses, e da Luma, que vai nascer em março de 2025, ele e a mulher, Ana Luisa, se preocupam desde agora.
“Certamente, isso é uma preocupação nossa. Era dever dos meus pais me ensinar e me orientar, e, na época, os dilemas eram outros, como o consumo de bebida alcoólica. Hoje, os dilemas estão muito relacionados à tecnologia, e é algo que precisamos entender melhor para orientar nossos filhos. Acho que postergar o uso de telas ao máximo só traz benefícios para as crianças”, afirma.
Como chegamos até a geração Beta?
A classificação das gerações, feita pelo sociólogo húngaro Karl Mannheim, no início do século XX, começa pelos Baby Boomers, nascidos entre 1946 e 1964. Eles cresceram no período pós-guerra, em um mundo que se reconstruía; por isso, valorizam a estabilidade e o trabalho duro.
Já a geração X, de 1965 a 1980, acompanhou a globalização e o surgimento dos computadores pessoais. Com isso, desevolveram um forte senso de independência.
Os Millennials, ou geração Y, de 1981 a 1996, viram a internet transformar o cotidiano – e, mais que estabilidade, eles buscam propósito em tudo que fazem.
Depois, vem a geração Z, de 1997 a 2010. Essa geração já nasceu conectada, com smartphones e redes sociais – e, até por isso, enfrenta desafios principalmente ligados a saúde mental.
Já a geração Alfa, de 2010 a 2024, cresceu cercada por dispositivos inteligentes, com preocupações sobre o impacto da exposição na criatividade e nas habilidades sociais.
Adaptação para todos
A convivência intensa com a tecnologia não vai ser exclusiva da Beta. O professor da USP e especialista em inteligência artificial, Diogo Cortiz, explica que até as gerações anteriores vão precisar se adaptar às transformações em curso.
“Essa geração já vai estar acostumada a distinguir o que está vendo – se foi criado por uma inteligência artificial ou captado por uma câmera, por exemplo. E, se hoje estamos falando de IAs que geram conteúdo, estamos entrando em uma nova fase, que chamamos de agentes de inteligência artificial. Eles funcionam como softwares com a capacidade de agir no ambiente, não apenas criar. Não será apenas essa geração que passará por isso; a minha também, assim como a de muitos ouvintes, vai coexistir com a geração Beta e enfrentar esses mesmos desafios. Temos muito mais perguntas do que respostas, e acredito que o futuro trará não só grandes desafios, mas também muitas oportunidades”, projeta.
A pedagoga Ana Eloá Pontes vive o desafio de criar um filho da geração Alfa, o Rafael, e está à espera do segundo filho. Ela reflete que, em meio a tantas transformações, o acesso fácil à informação é um dos aspectos que mais a anima como mãe.
“Com a velocidade que a tecnologia avança é uma coisa de louco, né? Cada dia tem coisas diferentes, borbulhando nas redes sociais e tudo acontecendo. O que me deixa mais animada, eu acho, em relação ao nascimento do meu filho nessa geração é essa facilidade da informação que a gente não tinha. Nosso tempo era tudo em livros, em enciclopédias, não que fosse ruim. A gente também aprendeu muito com isso, mas que dava bastante trabalho, né?”, pontua.
Se, por um lado, limitar o uso de telas traz benefícios, por outro, o Gustavo – pai do Toni e da Luma – admite que dá um trabalho danado.
“Vou te falar: isso traz grandes desafios. Agora, por exemplo, ele está aqui dentro do balde, pedindo minha mão, com um monte de coisas espalhadas ao redor. Certamente, se eu tivesse deixado ele na frente da televisão assistindo a um desenho cheio de estímulos, ele estaria quietinho, parado lá. Faz parte desse esforço de ser um bom pai, uma boa mãe e um bom educador esse empenho de tentar fazer o melhor pelos filhos. É desafiador, mas acredito que criar os filhos com limites, especialmente em relação às telas, é algo essencial para o desenvolvimento deles”, opina.
A geração Beta chega ao mundo com o peso de heranças globais e a promessa de um futuro em que o digital e o humano vão precisar coexistir. Entre desafios e oportunidades, ela pode ser a geração que mais vai redefinir o significado de viver em sociedade.