Um projeto que escaneia a íris com o consentimento do usuário completou dois meses de operação no Brasil, mas ainda enfrenta muitas incertezas, especialmente por não detalhar quais informações são coletadas. Em troca desses dados, considerados sensíveis, os participantes recebem pagamentos em criptomoedas emitidas pela própria empresa. Na segunda-feira (13), a CBN mostrou que mais de 150 mil brasileiros já participaram da iniciativa.
A WorldCoin foi criada pelo cofundador da OpenAI, criadora do ChatGPT, Sam Altman. A Tools for Humanity administra o projeto, que se se define como uma rede que desenvolve uma identidade digital baseada na leitura da íris, capaz de distinguir humanos de robôs A empresa tira uma foto da íris dos usuários, que autorizam a fotografia. Em troca, recebem 25 unidades da criptomoeda da companhia, cerca de R$ 300 na cotação atual.
Apesar dos adeptos, a iniciativa gerou dúvida e apreensão. Para entender por que as empresas estão em busca desse tipo de dado pessoal e quais os riscos e oportunidades, a CBN entrevistou Fabro Steibel, diretor-executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio), no Show da Notícia, apresentado por Guilherme Muniz.
Afinal, o que é a biometria e por que a empresa quer fazer reconhecimento da íris?
Steibel explica que a biometria é a mensuração de uma parte do corpo, e é utilizada em diversos sistemas para atestar identidade. “A sua identidade digital é uma biometria, reconhecimento facial é uma biometria, reconhecimento de orelha é uma biometria. Tudo que puder ser reconhecido é uma biometria.”
No caso, a proposta da empresa é reconhecer a íris do olho de humanos. A vantagem de se analisar a íris seria a precisão do reconhecimento. “Eles vão olhar 30 e poucos pontos ali, igual a gente faz com a digital, mas na sua íris, e daquilo lá, a probabilidade de duas pessoas terem aqueles 30 pontos iguais é muito baixa. É por isso que você poderia utilizar aquele dado como algo singular seu. É daí que vem a ideia de usar a biometria para a identidade.”
“Fica cada vez mais difícil de você provar a sua identidade no mundo digital. Um porteiro de prédio faz reconhecimento. Se entra uma pessoa estranha, ele interroga. Se entra uma pessoa que entra sempre, ele deixa entrar. Ele nem pediu biometria, identidade, ele está só olhando a pessoa. Mas, no mundo digital, a gente tem essa dificuldade. Funciona a biometria? Funciona, porque vários celulares têm o leitor de biometria, é baratinho de colocar. Então, a biometria é suficiente, em geral, para a gente fazer isso. O que a WorldCoin está sugerindo é que a próxima fronteira será a íris. Pode ser que seja? Pode, mas é uma aposta.”
Existem riscos em fornecer informações da sua íris?
Muitas pessoas questionaram, nas redes sociais, se o fornecimento de informações biológicas, como a biometria da íris, traria riscos. Fabro Steibel diz que as preocupações têm sentido e explica que, ao fornecer dados, é possível que eles sejam utilizados por terceiros. “Toda vez que você dá um dado, aquele dado pode ser usado contra a sua vontade ou contra você.”
“Olha, não é exagerado ter essa preocupação, porque a gente vive o que a gente chama de cultura da vigilância: já que o dado está lá, e se eu usasse ele também para isso? Para aquilo? E para aquilo? Há um incentivo muito grande para as pessoas abusarem do seu dado e há penalidades muito brandas para você conseguir descobrir e parar esse abuso. Isso acontece em diversas coisas, por isso que a gente chama dessa cultura de vigilância. Então, a gente tem que tomar cuidado com esses usos da biometria, principalmente numa forma direta, como a íris, como a digital, porque ela pode ser abusada. Mas existem boas tecnologias para que, mesmo com esse dado, o abuso seja muito difícil.”
Ouça a entrevista completa
Fabro Steibel aborda ainda detalhes da tecnologia, direitos de quem fornece os dados e mais: