Entrevistado desta sexta-feira (1º), no Fim de Expediente, o jornalista Bruno Paes Manso comenta a ascensão do Primeiro Comando Capital, o PCC, grupo de crime organizado que surgiu em São Paulo.
O jornalista e pesquisador Bruno Paes Manso é o entrevistado desta sexta-feira (1º), no Fim de Expediente. Ele está há cerca de 20 anos pesquisando as ações do crime organizado no Brasil é autor das obras “A república das milícias: Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro”, “A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil” e “A fé e o fuzil: Crime e religião no Brasil do século XXI”. Ouça a entrevista completa e saiba mais:
O pesquisador do crime organizado falou um pouco sobre a primeira fuga de um presídio federal que ocorreu em Mossoró, no último dia 16. Para o especialista, a fuga foi um acontecimento pontual, mas é necessário observar que o drama do sistema penitenciário não está em Mossoró, e, sim, nas unidades penitenciárias superlotadas comandadas por mais de 70 facções com base prisional.
‘”A gente fala muito pouco do sistema penitenciário. O grande caos e o grande drama está nos estados porque, como é superlotado, a gestão é feita pelas próprias facções, o que deu uma força descomunal nesses últimos anos”, definiu.
O entrevistado também explicou a ascensão do PCC. Localizado principalmente em São Paulo, a organização criminosa se expandiu por praticamente todo o território brasileiro, além de pelos países vizinhos como Paraguai, Bolívia, Colômbia e Venezuela. Segundo Bruno, o PCC cresceu ao internalizar a expressão “O crime fortalece o crime'” e reforçar discurso de fazer um “bem’ maior” e “bater de frente com o Estado, encará-lo como o inimigo”. A partir dessa gestão, o grupo dominou os sistemas penitenciários, as cadeias e as prisões e transformaram as penitenciárias em escritórios do crime, principalmente depois do celular, que permitiu essa conexão e essa construção de rede a partir do fim dos anos 1990 e início dos anos 2000.
“As drogas são um mercado bilionário porque oferecem um produto que tem muito a ver com o hedonismo das cidades, com o culto ao prazer e tudo mais. Então, é um produto que faz todo sentido e, por ser ilegal, é muito lucrativo e, com o passar dos anos, eles começaram a perceber essa oportunidade. No começo, você tinha a venda varejista nas cidades, que geravam conflitos e um processo autodestrutivo. Mas aí veio o PCC, a partir dos anos 90, com um discurso diferente. Depois do massacre do Carandiru, ele surge falando: ‘O Estado quer nos matar’. E, naquele momento, São Paulo tinha muitos homicídios, conflitos entre os próprios criminosos. ‘ Estado quer nos matar. Irmão precisa parar de matar irmão e a gente tem que bater de frente com o sistema'”, analisa.
Além disso, Bruno também comentou o lançamento da seu próximo livro “A fé e o fuzil”, que abordará a relação das religiões com o crime organizado. O escritor cobriu a transformação dos envolvidos com o crime organizado “até chegarem ao fundo do poço”, que seria quando começam a se relacionar com a religião.
“Os caras chegavam no fundo do poço, eles eram seduzidos para entrar no crime, falando o seguinte: ‘Vamos bater de frente com o sistema. O sistema quer nos matar’. Isso seduz uma masculinidade urbana de periferia. Aí você entra no crime e percebe que a carreira do crime é muito cruel e muito dramática. Eles entram numa crise profunda, veem que tem um monte de gente querendo matá-los, eles precisam matar um monte de gente, e é uma vida sem sentido, vazia. E, para sair dessas cenas, os evangélicos ofereciam uma nova identidade: ‘Você pede perdão, é perdoado, você perdoa aqueles que estão querendo te matar, você busca o perdão deles e nasce numa nova identidade, porque você não era essencialmente ruim, era o diabo que estava te fazendo a cabeça’. Mas ele consegue sair dessa organização?”, questiona.
*Estagiária sob supervisão de Laura Rocha