A disputa da prefeitura de São Paulo caminha para um confronto ideológico. As campanhas, ao invés de focarem nos problemas da megacidade, elegem o confronto político entre conservadores e progressistas.
A população acompanha boquiaberta debates que falam em marxismo, exploração do homem pelo homem, reforma agrária na marra, ataques contra a religião, geração de mais-valia e outras coisas ininteligíveis. Parece um debate acadêmico em uma defesa de dissertação de mestrado e não uma campanha para ser prefeito da maior e mais poderosa cidade do Brasil.
Ninguém ignora que a prefeitura paulistana é um forte trampolim para quem almeja conquistar o governo do estado e até mesmo a presidência da República. A história tem registro.
Buracos de rua ou teses acadêmicas? Se for seguir o que acontece nas maiores cidades brasileiras, os candidatos se esforçam para convencer o eleitorado de que vão ficar mais felizes com sua escolha.
As promessas fazem parte de planos mirabolantes, engendrados nos escaninhos de agências de marketing político que garantem votos. Ninguém quer saber se o candidato tem ou não doutorado na Sorbonne, mas sim se o caminho de casa ao trabalho, ida e volta, não vai consumir três horas do seu descanso.
O eleitorado é pego em um fogo cruzado de propostas para a cidade totalmente antagônicas e muita gente não entende o que significam. Cabos eleitorais, pagos ou não, candidatos a vereador na rica Câmara Municipal se digladiam para surfar na onda de aprovação do candidato majoritário.
“Santinhos” com as fotos dos candidatos entopem os bueiros da cidade e a paciência dos eleitores. Há uma polarização radical e as ofensas vão de comunista a fascista.
A chave de tudo é falar o que o povo quer ouvir. E ele sabe muito bem disso. Tem treinado ao longo de toda a sua carreira política e tem habilidade para se manter no noticiário. Falem mal, mas falem de mim, desafia o candidato da esquerda, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso.
Sua vitória é fava contada na mídia e nas pesquisas eleitorais. O candidato da direita é o ex-presidente Jânio Quadros, sem nenhuma chance de voltar à prefeitura paulistana. Ele ressuscita a velha cantilena do “varre, varre vassourinha”, não comparece aos debates na televisão e é vaiado por estudantes na campanha nas universidades.
É uma batalha entre o simpático professor, respeitado internacionalmente pelo seu trabalho acadêmico, e o populista acusado de tentar um golpe de estado. Antes da eleição, FHC é dado como vencedor e convidado para tirar uma foto, sentado na cadeira de prefeito para a primeira página da Veja.
As últimas pesquisas são arrasadoras. São Paulo já tem um novo prefeito. Abertas as urnas, e as cédulas de papel, o vencedor é Jânio Quadros, que, ao tomar posse, antes de sentar na cadeira de prefeito, a desinfeta. O populismo vence mais uma vez.
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