Em um planeta em transformação devido às mudanças climáticas, aumenta a busca por meteorologistas enquanto faltam profissionais capacitados. O Brasil tem poucas universidades oferecendo a formação – são 11 cursos de ensino superior no Brasil, todos em instituições públicas, de acordo com o Ministério da Educação.
A meteorologia é uma ciência aplicada e prática, que tem como base de formação a física e a matemática. E assim como os demais cursos de Ciências Exatas, também segue a tendência de diminuição da procura e aumento da evasão. Uma das primeiras do país, a graduação da USP tem 10 semestres, mas a partir de 2026, será reduzida para quatro anos. O entendimento da universidade é que a redução do total de horas vai estimular a permanência e a conclusão da faculdade. Por ano, se formam apenas de cinco a sete graduandos. A evasão chega a 80%, segundo o coordenador do curso de Meteorologia, Micael Amore Cecchini.
“Aqui na USP, a procura ainda não caiu. No entanto, a gente sabe que a procura por Exatas vem caindo no mundo inteiro, e outras universidades já perceberam a queda do interesse no ingresso. Por isso, esse é um desafio e tanto”, destaca.
O meteorologista é demandado não somente para a previsão do tempo em canais de comunicação, mas atua no setor de energia, agricultura, aviação, navegação, biometeorologia, construção civil, entre outros. O piso é de 8 salários mínimos e meio – ou seja, cerca de R$12 mil para 8 horas de jornada. E a constante atualização é preceito básico para o profissional, diante do aumento exponencial de dados e do uso de inteligência artificial e novos satélites, destaca o meteorologista Franco Villela.
“É necessário gostar de acompanhar como o tempo evolui, de olhar para os céus. Apesar das muitas horas de computação, você precisa aprender a olhar a natureza”, ressalta. E complementa que “antes de ser uma Ciência Exata, a Meteorologia é uma das Ciências Naturais”.
A meteorologista Estael Sias é uma das sócias da MetSul Meteorologia. Ela conta que o serviço tem sido cada vez mais demandado por pessoas e empresas que querem se prevenir ou se preparar para desastres como a enchente de maio, no Rio Grande do Sul:
“A gente percebeu que as pessoas começaram a se interessar mais e levaram a sério os nossos alertas. Em muitas situações, mesmo com a inundação, as pessoas resistiram. Mas agora observamos um respeito e uma atenção muito maior aos conteúdos técnicos especializados. Porque em tempos de rede social tem muito oportunista para monetizar conteúdos alarmistas. E as pessoas estão selecionando o conteúdo que importa para a proteção de si, da família e da propriedade”, afirmou.
Em meio ao aumento da demanda, o Inmet, principal serviço meteorológico gratuito do país, enfrenta um déficit de pelo menos 100 profissionais. E o Concurso Nacional Unificado, prevê a contratação de apenas 40 meteorologistas para o Instituto. Até 2026, o Ministério da Agricultura e Pecuária prevê o repasse de 200 milhões de reais para a modernização do órgão.