De acordo com o mais recente informe epidemiológico de dengue da Secretaria de Saúde (SESDF), desde o início do ano, foram notificados 146.888 casos suspeitos de dengue, dos quais 140.480 eram prováveis. Diante desse surto, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da capital estão superlotadas e muitos pacientes têm reclamado de estarem voltando para casa sem conseguir atendimento. “Tem dois dias que estou com sintomas de dengue e estava evitando vir na UPA por causa das filas. Mas não tive outra opção e já tem horas que estou aqui esperando para ser atendida”, relata Marlene de Sousa, de 43 anos.
Assim como a dona de casa, que mora em Planaltina DF, muitos dos pacientes que fizeram fila nas primeiras horas de atendimento relataram superlotação e até falta de senha de atendimento na UPA localizada na cidade. “Ontem eu e minha esposa fomos na UBS, e foi negado o atendimento para ela, pois estavam atendendo apenas casos graves. Hoje decidimos vir aqui na UPA e, mesmo com a fila, estamos com esperança de que vamos conseguir”, relatou Rodrigo Moraes, de 53 anos, que estava acompanhado da companheira Iolanda, de 51.
Esse problema, contudo, não é recente. No mês passado, momento que os casos da doença alcançaram seu pico, o aposentado Antônio Monteiro, de 69 anos, foi diagnosticado com dengue e, ao procurar a UPA do Setor O, em Ceilândia, por precisar tomar soro e medicação, não recebeu as substâncias e voltou para casa sem o devido atendimento. “Fiquei mais de 8 horas lá e não tive resposta. No dia seguinte, me recomendaram ir para Vicente Pires e depois de muito tempo, consegui”, relata.
O que diz o Iges
Em nota, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF) informou que está ciente do aumento significativo na demanda de atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (Upa). “Até o momento, já atendemos nas Upas, de janeiro de 2024 até agora, mais de 47 mil casos de pacientes com dengue, o que representa um aumento de mais de 500% se comparado ao mesmo período do ano passado”, destacaram.
Quanto ao que tem sido feito para melhorar a situação, o Iges declarou: “Diante dessa situação, implementamos salas extras de hidratação, aumentamos a oferta de água nas recepções e dentro das unidades para melhorar a hidratação dos pacientes, e criamos consultórios exclusivos para pacientes com dengue, agilizando os atendimentos e permitindo uma rápida reavaliação médica após a hidratação e medicação”.
O instituto também salientou que todas as unidades operam acima de sua capacidade atualmente. “Para acomodar os pacientes, estamos disponibilizando poltronas que ajudam a otimizar nossos serviços e ampliar nossa capacidade de atendimento”, acrescentam. “Recebemos visitas do Ministério da Saúde e da Secretaria de Saúde do DF nas unidades para organizar o fluxo de atendimento da dengue, com o intuito de priorizar e melhorar a qualidade dos atendimentos aos pacientes”, finaliza o Iges.
Hcamp
Diante desse cenário, foi instalado, no mês passado, o Hospital de Campanha (Hcamp), em Ceilândia. A iniciativa foi uma estratégia para aumentar a assistência a pacientes com dengue e, de acordo com a SESDF, em 1 mês, foram realizados 26.966 procedimentos, que representa uma média de 890 por dia.
Localizado próximo à Feira do Produtor, o Hcamp tem estrutura modular, com sete células, onde funcionam áreas para acolhimento, consultas e laboratório, dentre outras. O hospital tem funcionamento de 24 horas com toda a estrutura necessária para atendimento dos pacientes com dengue, como cadeiras de hidratação e leitos.
Ao contrário do que acontece nas UPAs, os relatos de quem foi atendido no hospital gerido pela Força Aérea Brasileira (FAB) são positivos. Ana Clara Silvino, de 36 anos, estava sofrendo com diarreia, febre e dores no corpo no início deste mês. Após dois dias de sintoma, a secretária decidiu ir ao hospital e logo fez o teste para a doença, que deu positivo. Ana foi encaminhada para a hidratação venosa. “Foi rápido, em comparação às histórias que ouço de outros atendimentos em outros hospitais. Cheguei 12h e fui embora pouco antes das 17h”, relata a moradora de Águas Claras.
Atualmente, o DF conta com 176 unidades básicas de saúde (UBSs) que servem como porta de entrada de casos suspeitos da doença na rede pública. Dessas, 11 oferecem um horário especial noturno para a população. Em casos mais graves, classificados como grupos C e D, que envolvem dores intensas na barriga, vômitos persistentes, sangramentos no nariz, na boca ou nas fezes, tonturas e extremo cansaço, os pacientes devem procurar uma das 13 UPAs espalhadas pela capital.
Como forma de ampliar o atendimento a pacientes com sintomas de dengue, o Governo do Distrito Federal (GDF) decidiu reservar consultórios e médicos destinados exclusivamente para atender casos suspeitos da doença em todas as UPAs. A decisão tem como objetivo agilizar a avaliação dos quadros clínicos de cada paciente, proporcionando um diagnóstico mais rápido e eficiente.
Mortes
Segundo o Ministério da Saúde, desde o início deste ano, o DF registrou 48 mortes por dengue. Outros 49 óbitos estão sob investigação, de acordo com a pasta.