Um vídeo viralizou nas redes sociais nesta quarta-feira (10) supostamente mostrando um armazém na Síria com captagon, uma droga ilícita que produzida na Síria sob o governo de Bashar al-Assad.
No vídeo, uma voz diz que essa é “uma das maiores instalações de armazém de fabricação de pílulas de captagon”. Pilhas de pílulas são vistas no chão junto com equipamentos para fabricação de drogas.
Veja o suposto armazém de drogas na Síria:
O grande armazém estaria localizado na sede de uma divisão militar perto de Damasco, comandada pelo irmão do presidente deposto, Maher al-Assad. A CNN não conseguiu verificar o local imediatamente.
Se confirmada, a descoberta apoiaria as alegações dos Estados Unidos e outros países de que o regime de Assad estava envolvido na exportação da droga.
O captagon se tornou um problema social significativo em nações árabes vizinhas e estimulou algumas delas a negociarem com o antigo regime sírio para conter seu tráfico.
Essa é uma droga altamente viciante, contendo principalmente anfetamina, que às vezes é descrita como a “cocaína do homem pobre”. Estudos nos últimos anos estimaram que o comércio anual da droga vale bilhões de dólares.
Acredita-se que ela tenha se tornado uma “tábua de salvação” econômica para o regime Assad enquanto ele estava sob sanções dos Estados Unidos.
No domingo (8), após chegar a Damasco, Mohammad al-Jolani, líder das forças que derrubaram o regime, disse que a Síria havia se tornado “a principal fonte mundial de captagon. Mas hoje, a Síria está sendo purificada pela graça de Deus todo-poderoso.”
Produção de drogas no regime Assad
De acordo com um relatório do Carnegie Endowment no início deste ano, o regime de Bashar al-Assad e seus aliados tinham “alavancado o tráfico de captagon como um meio de exercer pressão sobre os Estados do Golfo, notavelmente a Arábia Saudita, para reintegrar a Síria ao mundo árabe”.
O documento pontua que a produção da droga estava “entrelaçada com os interesses de poderosos grupos de interesse na Síria, incluindo integrantes seniores da liderança”.
O Escritório da ONU sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês) relatou no ano passado que “a principal área de partida para embarques de captagon” continuou sendo a Síria e o Líbano, “com destinos nos países árabes do Golfo alcançados diretamente por terra ou mar, ou indiretamente com embarques por outras regiões”.
O UNODC também relatou que as maiores apreensões da droga – cerca de dois terços do total – foram feitas na Arábia Saudita. A CNN já havia relatado anteriormente sobre o uso generalizado da droga no reino.
Em 2022, o embaixador saudita em Beirute, capital libanesa, relatou que as autoridades do reino confiscaram 700 milhões de comprimidos contrabandeados do Líbano desde 2014.
Vários estudos estimam que o comércio de captagon aumentou na última década. O Middle East Institute relatou que, em 2021, quase US$ 6 bilhões em captagon feito na Síria foram apreendidos no exterior e, somente em abril de 2022, 25 milhões de pílulas da driga foram interceptadas em países vizinhos, no valor de cerca de US$ 500 milhões.
Sanções dos EUA contra Síria
No ano passado, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos sancionou vários sírios intimamente associados ao regime Assad por suposto envolvimento no comércio de captagon.
“O regime sírio e seus aliados têm abraçado cada vez mais a produção e o tráfico de captagon para gerar moeda forte, estimada por alguns em bilhões de dólares”, afirmou o Tesouro.
Entre os sancionados estavam dois primos de Bashar al-Assad e Khalid Qaddour, um associado próximo de Maher al-Assad que foi descrito como um “principal produtor de drogas e facilitador” da produção de captagon na Síria.
Em 2023, o governo Biden elaborou uma estratégia para combater o comércio de captagon, destacando que a grande maioria era “produzida por facções sírias locais ligadas ao regime de Assad e ao Hezbollah” e que “grandes quantidades dessas pílulas de captagon são enviadas de portos sírios como Latakia ou contrabandeadas através das fronteiras da Jordânia e do Iraque”.
Entenda o conflito na Síria
O regime da família Assad foi derrubado na Síria no dia 8 de dezembro, após 50 anos no poder, quando grupos rebeldes tomaram a capital Damasco.
O presidente Bashar al-Assad fugiu do país e está em Moscou após ter conseguido asilo, segundo uma fonte na Rússia.
A guerra civil da Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad reprimiu uma revolta pró-democracia.
O país mergulhou em um conflito em grande escala quando uma força rebelde foi formada, conhecida como Exército Sírio Livre, para combater as tropas do governo.
Além disso, o Estado Islâmico, um grupo terrorista, também conseguiu se firmar no país e chegou a controlar 70% do território sírio.
Os combates aumentaram à medida que outros atores regionais e potências mundiais — da Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos à Rússia — se juntaram, intensificando a guerra no país para o que alguns observadores descreveram como uma “guerra por procuração”.
A Rússia se aliou ao governo de Bashar al-Assad para combater o Estado Islâmico e os rebeldes, enquanto os Estados Unidos lideraram uma coalizão internacional para repelir o grupo terrorista.
Após um acordo de cessar-fogo em 2020, o conflito permaneceu em grande parte “adormecido”, com confrontos pequenos entre os rebeldes e o regime de Assad.
Mais de 300 mil civis foram mortos em mais de uma década de guerra, de acordo com a ONU, e milhões de pessoas foram deslocadas pela região.
Quem é a família de Bashar al-Assad, que governou a Síria por mais de meio século