Manobra é sugerida na hora da compra presencial e produto é retirado no balcão da unidade. Associação do comércio eletrônico diz que estratégia digital fideliza o cliente e evita filas. Mas alguns setores acreditam que prática pode causar desemprego e quebrar relação de comércio entre os clientes
Para fidelizar o cliente e avançar nas vendas, grandes redes do comércio têm sugerido que clientes das unidades físicas comprem produtos pelo aplicativo e retirem a mercadoria no balcão da loja. Mesmo quem procura a loja física recebe a sugestão do atendente sobre a vantagem no preço, já que muitas vezes o produto é mais barato pela plataforma. A estratégia tem deixado alguns consumidores curiosos, já que para muita gente não faz sentido não conseguir o desconto já estando presencialmente no local. A recepcionista, Lindovânia Araujo, foi convencida (no balcão de uma farmácia) a baixar o aplicativo e finalizar a compra por lá. Ela ficou surpresa com o desconto e a praticidade. Agora, só compra assim.
“Eu olhei o preço do remédio e achei que estava muito caro. A atendente perguntou “você olhou no aplicativo” eu disse que não e ela fez na hora para mim e o remédio na faixa de 80 reais eu consegui na faixa de 65 reais. Demorou uns 15 minutos. Agora só faço assim, tem que biscar desconto”
A estudante, Victoria Kelly, passou pela mesma situação em uma loja de roupas. Ela diz que levou o mesmo produto que ia comprar no balcão pela metade do preço.
“A moça até perguntou se eu queria fazer o cartão e eu disse que não. Eu estava vendo uma blusa, ai ela disse que a camiseta estava mais barata no aplicativo. Eu baixei e retirei lá na hora, não foi nem 15 minutos. A blusa era tipo 60 reais e eu comprei por 30. Achei prático e barato né”
Os descontos agressivos chamam atenção dos consumidores. Para o presidente da Associação brasileira de comércio eletrônico, Maurício Salvador, a compra virtual evita filas e representa menos custos operacionais para as empresas. Ele diz ainda que ao baixar o aplicativo, o cliente recebe mais publicidade da marca e pode voltar a comprar na plataforma.
“As empresas têm cada vez mais se esforçado em levar os consumidores para o mundo digital porque uma vez que ele instala o aplicativo, a loja virtual consegue enviar notificações para esse consumidor sem precisar comprar mídia nas redes sociais. Isso se traduz numa fidelidade do consumidor, pois é alta a probabilidade dele voltar na plataforma e comprar pelo aplicativo”
Por outro lado, pequenas empresas e alguns setores do comércio não acham a estratégia positiva. O presidente do Sindicato das Farmácias do DF, Erivan Araujo, diz que a atitude pode ameaçar os empregos nas lojas. Além disso, para ele a retirada do produto na unidade quebra uma relação com o cliente, fundamental para o comércio.
“A população quando procura uma farmácia é porque está com algum problema, então nada melhor do que receber uma orientação de profissionais. Muitas vezes dentro da drogaria o balconista faz um papel de psicólogo em determinadas situações em que a pessoa está abalada. Então, acaba se perdendo o convívio com o cliente e o toque pessoal que o atendimento humanizado que as farmácias oferecem”
A CBN procurou algumas das grandes redes que têm adotado a estratégia nas lojas físicas, as empresas – no entanto – não quiseram falar sobre o assunto com a reportagem.