O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, afirmou que a Controladoria do Município apura denúncias contra empresas de ônibus que operam para a cidade e são investigadas por ligações com o PCC.
Pelo menos três companhias têm contrato com a prefeitura, recebendo quase R$ 1 bi dos cofres públicos. São elas a Transcap, UPBus e a Transunião.
As denúncias envolvendo as empresas de transporte supostamente ligadas à facção criminosa estão sendo reveladas pelo jornal O Estado de S. Paulo.
O prefeito declarou que assim que soube das suspeitas já pediu a investigação interna e colocou a prefeitura à disposição para colaborar com o Ministério Público.
Ricardo Nunes afirmou que é preciso concluir a apuração para suspender os contratos, caso haja ligação com o crime organizado.
“Por parte da prefeitura, nós temos o maior interesse de que haja toda a apuração. O que a gente não tem é como fazer nenhum tipo de ação enquanto não forem concluídas as investigações e concluído que realmente existe ali algum ilícito. Mas, da nossa parte, a gente está monitorando. Se tem empresa envolvida com qualquer tipo de criminalidade, com uma organização criminosa e que, eventualmente, como foi aventado, usa disso para poder fazer lavagem de dinheiro, a gente vai tomar as providências, que seria o cancelamento de contrato. Mas, isso precisa ficar evidentemente configurado, que sejam condenados com relação a isso”, afirma o prefeito.
Indícios de lavagem de dinheiro
O Estadão revelou, ainda, que a Transunião, empresa fundada pelo líder petista na Câmara de São Paulo, pagava R$ 70 mil por semana ao PCC, de acordo com a polícia.
Mensagens no celular de Adauto Soares Jorge, ex-diretor da empresa de ônibus, mostraram a existência dos pagamentos semanais. Ele foi morto a tiros em 2020, em uma emboscada envolvendo o motorista do vereador Senival Moura (PT), o Devanil Souza Nascimento.
Para a polícia, a Transunião, empresa que tem contrato com a prefeitura de São Paulo, era utilizada para a lavagem de dinheiro do PCC.
De acordo com a apuração policial, o crime foi cometido pela facção após descobrirem que ele e Senival Moura estavam desviando dinheiro da empresa. Aponta, ainda, que o vereador petista teria encomendado a morte do amigo para se livrar da pena imputada pelos criminosos.
A partir do assassinato, começou o inquérito que apura extorsões, lavagem de dinheiro e organização criminosa envolvendo a empresa de transporte.
Vereador nega as acusações
Em 2022, a Polícia Civil deflagrou uma operação para investigar o envolvimento do vereador no crime de homicídio e nas supostas ligações do crime organizado à gestão da empresa de ônibus. Senival Moura nega as acusações e se declara vítima:
“Eu tenho muito orgulho de minha atuação perante mais de 30 anos no sistema de transporte dessa cidade de São Paulo, pela lisura de todo o processo que nós fizemos. Tenho orgulho de defender isso. Venho reafirmar que nós somos vítimas disso. Tanto Adalto, como também eu fui e como a direção, boa parte da direção da empresa que nós estamos. Quanto a esses apontamentos que tem especialmente pela imprensa, que são mal intencionados, a gente deixa claro que nós somos vítimas. Reiteramos isso daí”, diz.
O vereador se desligou da empresa em 2022 e alegou que, durante a gestão na Transunião, não se envolveu com nenhuma facção.
Em 2022, Senival declarou, no plenário da Câmara, que operou com a Transunião até o dia 4 de fevereiro de 2020.
Contou que, no dia 5, teria uma assembleia da empresa e que recomendaram a ele e a Adauto Soares Jorge não participarem do encontro. Desde então, disse que decidiu ir embora e se desligou da empresa.
Fala que o vereador reiterou para a reportagem da CBN, reforçando que, durante sua gestão na empresa, nunca se envolveu com nenhuma facção criminosa:
“Nunca existiu, nunca existiu, nunca existiu na nossa parte, não. Enquanto nós trabalhávamos na empresa, não. Nós trabalhávamos, tratávamos com os acionistas, que era o papel que a gente tratava, os funcionários da empresa, era isso. Na verdade, eu saí da Transunião em função do que aconteceu com ele, do assassinato dele. Por isso que eu saí da Transunião. Não teve disputa interna. O Adalto foi vítima de uma forma covarde, perdeu a vida, então não teria sentido de eu continuar num lugar desse”, afirma.
Senival e Adauto eram perueiros nos anos 1980, antes de o transporte clandestino ser regularizado.
Integrantes do PCC e do Comando Vermelho estão se infiltrando nos municípios para tentar contratos milionários com as prefeituras, ainda de acordo com investigações policiais reveladas pelo Estadão.
A ação dos criminosos foi detectada em São Paulo, Rio, Bahia, e Ceará, entre outros Estados.
O objetivo das facções é lavar o dinheiro do tráfico de drogas em atividades lícitas e obter mais lucro.
O que dizem as empresas?
Em nota, a Transunião informou que não pode responder ainda porque o caso está sob sigilo de investigação, mas afirmou que a empresa e os colaboradores são vítimas e esperam ser ressarcidos pelos danos de imagem e financeiros causados.
De acordo com a empresa, as notícias divulgadas trouxeram muita preocupação a todos da diretoria, colaboradores e acionistas da empresa, que aguardam um esclarecimento breve.
A CBN também procurou a UPBus, mas não obteve retorno.
A reportagem não conseguiu contato com a Transcap, mas o espaço está aberto para manifestação.
*Estagiário sob a supervisão de Lucas Soares.