A comunicação está no cerne de como construímos uma reputação. Quem defende isso é o jornalista Charles Duhigg, que está no Brasil e, nesta quinta-feira (31), conversou com centenas de líderes empresariais, consultores e formadores de opinião para discutir o futuro da comunicação e a importância da reputação nos negócios.
Duhigg é autor de “A Força do Hábito”, livro que vez ou outra bate o topo da lista de mais vendidos, inclusive no Brasil. O lançamento mais recente é o “Supercomunicadores”, da editora Objetiva, que promete ajudar o leitor a ter conversas mais profundas com resultados mais interessantes.
Vencedor do Pulitzer em reportagem explicativa por uma série de matérias em 2013, o autor best-seller vai além da prateleira de autoajuda das livrarias, usando ciência como base da narrativa.
“Tudo o que eu escrevo, quero que esteja enraizado em pesquisa. Existem todos esses artigos científicos que nos dizem muito sobre como nos comportamos, sobre como podemos ser mais bem-sucedidos, sobre o que devemos fazer para ter sucesso, mas os artigos são difíceis de ler, eles são escritos para outros cientistas. Então, o que eu faço é pegar esses artigos e tentar torná-los mais fáceis de ler, mais fáceis de absorver, porque uma vez que você faz, de repente desbloqueia todo esse aprendizado. Então, eu acho que essa é a diferença [na comparação com livros de autoajuda], tudo o que eu escrevo é enraizado em reportagem, pesquisa e ciência”, revela Duhigg. “É um trabalho para um jornalista”, questiona esta jornalista. “Sim, exatamente! Um trabalho para jornalistas”.
O norte-americano sabe o que é um país polarizado politicamente. Para ele, discordar não é prejudicial, e sim crítico. O problema é não compreender o outro:
“Certamente na política, as pessoas discordam umas das outras o tempo todo. Isso não é perigoso. O que é perigoso é não conseguir entender o que o outro lado está dizendo. E quando estamos polarizados, quando paramos de ouvir uns aos outros, quando paramos de falar de uma forma que seja fácil para eles entenderem, em vez de apenas atacar, então paramos de nos entender. E é essa falta de entendimento que é muito perigosa porque, então, eu começo a demonizar a outra pessoa. Eu digo: ‘ah, esse é um apoiador do Lula, então eles devem ser liberais e eles só querem tirar todo o nosso dinheiro e entregá-lo por aí’; ou eu sou um apoiador do Bolsonaro e eu penso o oposto. É essa falta de entendimento que é perigosa, não a discordância em si”.
Charles Duhigg, jornalista e escritor norte-americano — Foto: Divulgação/Ciente Silvério
Esse entendimento, na visão do jornalista, pode ser obtido por meio de uma escuta mais atenta e perguntas mais profundas, que não precisam ser longas, mas sim ter mais intensidade.
“Pode parecer meio difícil, como se não fosse intimidante, mas é tão simples quanto se você conhecesse alguém que é advogado. Por exemplo, em vez de perguntar a eles: ‘oh, em qual escritório de advocacia você trabalha?’; tente perguntar: ‘o que fez você decidir ir para a faculdade de direito? Por que você se tornou advogado? Você gosta de ser advogado? É divertido?’. Quando fazemos esse tipo de pergunta, é uma pergunta profunda. É uma pergunta profunda porque convida a outra pessoa a nos dizer quem ela é. Não estamos perguntando sobre os fatos de sua vida. Estamos perguntando como ela se sente sobre sua vida, e isso pode ser muito poderoso”, acredita o autor.
Em um cenário de informações mais rápidas e vídeos cada vez menores nas redes, Charles Duhigg observa que as coisas estão ficando mais rápidas e curtas, e que é importante criarmos tempo para ter conversas reais. Quando levamos isso para o ambiente corporativo, Charles Duhigg observa que um “supercomunicador” precisa ser, acima de tudo, um bom ouvinte.
“Quais são as habilidades que tornam alguém um supercomunicador? O que a ciência nos diz sobre como nos comunicar para que sejamos fáceis de entender, para que sejamos persuasivos, mas também para que nos sintamos conectados uns aos outros? Porque, no final das contas, o que uma empresa quer é ter uma conexão com seus clientes. Ela quer ter uma conexão com seus funcionários. Então, como criamos essa conexão? Liderar não é apenas falar, mas sim ouvir e entender o que as pessoas com quem você está falando querem falar. Entender como elas pensam sobre as coisas, que tipo de mentalidade elas têm. Então ouvir é crítico, mas igualmente crítico é provar que estou ouvindo”, avaliou o autor best-seller.
Quem soube se comunicar muito bem e construir uma boa reputação nos meios digitais foi Konrad Dantas, o Kondzilla. Como já chegou a dizer em outras entrevistas, ele fala a “língua da favela”.
“Não é apenas se ausentar dos temas mais urgentes, saber se posicionar, saber falar o não do jeito certo, saber quais são os parceiros que você vai escolher para caminhar contigo… [é também saber] quem é que vai estar contigo do lado ali na trincheira, porque reputação também é uma manutenção de um reconhecimento e o desafio é quando o barco balança, como você lida com esses desafios. Acho que a inteligência é meio isso, a inteligência é o quão rápido você consegue resolver um problema”, comenta o produtor em entrevista à CBN.
KondZilla, produtor e empresário — Foto: Divulgação/Ciente Silvério
Cria da periferia, o empresário do Guarujá, litoral paulista, fundou o maior canal do YouTube da América Latina, com mais de 67 milhões de inscritos e bilhões de visualizações.
“Eu acho que as escolhas que eu tomei, que deram muito certo, chamaram mais atenção do que as escolhas que eu tomei, que não me levaram para o caminho que eu desejava. Então, dentro do equilíbrio das escolhas que eu fiz e eu alcancei o objetivo e fui reconhecido, são maiores do que as que eu não alcancei o resultado esperado e essas, provavelmente, quase ninguém sabe. Que bom!”, revela.
Além da produtora e do selo musical, Kondzilla tem o nome envolvido em diversos projetos, sem deixar de lado o papel de documentar a evolução do funk como manifestação cultural e ser a conexão com o jovem da favela.
Konrad, o Kondzilla, ainda é responsável por Sintonia, série de sucesso da Netflix, e está por trás de Disciplina, drama criminal em produção, numa parceria com o Globoplay.
O produtor brasileiro e o escritor norte-americano concordam que entender o outro é a chave.
“Eu só sou um cara que sonha pra caramba e sou um mão na massa, sou um produtor, não tem tempo ruim a gente vai cair pra dentro, não é apenas criticar quem fez, é poder contribuir, poder somar, poder agregar mesmo com visões diferentes da nossa, porque a gente tem que alcançar o objetivo, e aí eu acho que o mais desafiador disso tudo é saber lidar com o voto vencido, porque o time inteiro pensou no objetivo e todo mundo vai caminhar, todo mundo vai rimar pra chegar lá junto”, afirma Konrad Dantas.
Kondzilla e Charles Duhigg participaram do Repcom 2024, promovido pela FSB Holding, em São Paulo. O evento contou com diversos outros nomes de peso para discutir o futuro da comunicação e a importância da reputação nos negócios.