Após mais de 400 dias de conflito na Faixa de Gaza, o acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas entrará em vigor no próximo domingo (19).
A primeira etapa vai durar cerca de um mês e meio. O acordo prevê a libertação de 33 reféns mantidos sob o poder do Hamas. Além disso, a retirada da tropa israelense será feita aos poucos com as forças permanecendo ao longo da fronteira com Gaza para proteger as cidades e vilarejos fronteiriços de Israel.
Em entrevista ao Ponto Final CBN, a professora de Segurança e Política Internacional da Universidade Federal de Santa Catarina, Danielle Ayres, analisa os principais pontos do documento e fala das expectativas para as próximas semanas.
Ayres destaca que a primeira fase do acordo, com a liberação dos reféns e retirada das tropas de Israel, tem mais chances de dar certo. Já a segunda e terceira etapas podem ser mais complexas.
‘Elas envolvem alguns tipos de decisões que talvez ainda não tenham sido feitas e que vão depender muito do o ambiente internacional e interno, tanto de Israel como de Gaza e Palestina nos próximos 50 dias, como uma transição de poder nos Estados Unidos, de um governo mais aberto à negociação com várias partes para um governo muito mais conservador e fechado e muito mais pró-demandas de Benjamin Netanyahu.’
A professora também fala do futuro de Netanyahu. De acordo com ela, o primeiro-ministro israelense enfrentará um cenário complexo, visto que sua figura pública será rechaçada tanto pelos conservadores, que estavam ao seu lado, quanto pela oposição e principalmente pelas famílias dos reféns.
‘Nesse cenário, Benjamin Netanyahu me parece enfraquecido. Mas, agora, ele tem apoio mais irrestrito para as suas demandas sobre o futuro desse processo de cessar-fogo e de reconstrução da geopolítica regional. Com o apoio mais efetivo de Trump, que coloca pelo que nós estamos vendo nos discursos, a Palestina e a ideia de dois estados em segundo plano.’
Danielle Ayres ainda pontua o papel dos Estados Unidos durante a negociação. Para ela, o governo Biden lutou muito para que algo acontecesse nos últimos dias do mandato. Mas, ficou muito claro que Biden foi incapaz de controlar as demandas políticas e de conflito que Benjamin Netanyahu possuía na região.