As votações dos projetos do pacote de corte de gastos na Câmara mostraram divisões da base aliada que poderão refletir na reforma ministerial, prevista para o começo de 2025. Os poucos votos de partidos com bancadas grandes, como o União Brasil e o PSD, também poderão pesar nas discussões sobre trocas de ministros. No Senado, também houve dissidências de aliados.
Mesmo após o líder do PSD, Antônio Brito, ter anunciado apoio ao pacote, 10 dos 42 deputados da sigla presidida por Gilberto Kassab votaram contra. No comando dos ministérios de Minas e Energia; Agricultura; e Pesca, o partido convive com insatisfações internas de políticos que não conseguem colocar apadrinhados em cargos, além de ter uma ala que resiste em aderir à gestão petista. De saída do cargo, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, é um dos cotados da sigla para ocupar a Esplanada dos Ministérios.
Com 59 deputados, o União Brasil também é dividido na relação com o governo Lula e pede mais espaço na Esplanada dos Ministérios. O partido ocupa os ministérios do Turismo, Comunicações e Integração Regional. No entanto, na votação do pacote de medidas fiscais, 34 parlamentares votaram contra o texto que modifica as regras do Benefício de Prestação Continuada (BPC). O líder do partido na Câmara, Elmar Nascimento, não votou.
Já o PP do presidente da Câmara, Arthur Lira, teve 17 dos 47 deputados pela rejeição da matéria. O Planalto estuda a acomodação de Lira no Ministério da Saúde ou da Agricultura. Hoje, o partido ocupa o Ministério do Esporte.
A pauta também gerou desgaste do governo com o PSOL. Os dez deputados da sigla presentes votaram contra o pacote e fizeram discursos contrários na tribuna. Em uma das sessões de análise da matéria, o líder do governo na Câmara, José Guimarães, chegou a reclamar da postura do partido. Na Esplanada dos Ministérios, o PSOL ocupa a Pasta de Povos Indígenas, e a Federação PSOL-Rede, o Ministério do Meio Ambiente.
O deputado Chico Alencar (RJ) ressalta que os relatores minimizaram os efeitos dos projetos, e que o governo já tem medidas administrativas para evitar distorções nas concessões do BPC. Para ele, um rigor na liberação pode se transformar em restrição para quem vive na pobreza. O parlamentar também disse que o governo tem que consultar mais o partido.
“Nesses primeiros dois anos jamais houve um reunião do PSOL com o governo e Federação PSOL-Rede. Queremos dialogar mais com o governo. Nós não operamos como vaquinha de presépio, o governo manda e a gente vota. Não, a gente considera o interesse público. Também esperamos que não haja a velha política de retaliação em relação aos ministérios”, afirmou.
Depois de semanas de discussão interna contra as medidas relacionadas ao Benefício de Prestação Continuada, o PT fechou questão a favor, mesmo assim, teve três deputados dissidentes: Marcon, Natália Bonavides e Rui Falcão, ex-presidente do partido.
Outro partido da base, o PSB, que conta com 14 deputados, teve seis parlamentares votando contra, incluindo a deputada Tabata Amaral, que concorreu ao governo de São Paulo, e Pedro Campos, irmão do prefeito de Recife, João Campos. A sigla ocupa dois ministérios.