Em 127 anos de história, a Academia Brasileira de Letras tem um primeiro indígena entre os integrantes. Diante de uma ABL lotada, o escritor e ambientalista Ailton Krenak, de 70 anos, tomou posse como imortal, na noite desta sexta-feira (5), na sede da Casa, no Centro do Rio.
Ele foi eleito em outubro de 2023, e vai ocupar a cadeira nº 5, vaga após a morte do historiador José Murilo de Carvalho.
Krenak chegou à cerimônia trajado com o clássico fardão da ABL e uma tiara indígena. No evento, foram servidas águas de cocô aos convidados como uma referência à cultura indígena.
Na mesa de cerimônia, estiveram presentes o presidente da Academia Brasileira de Letras, Merval Pereira; a ministra da Cultura, Margareth Menezes; o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida; e a presidente da Funai, Joemia Wapichana.
Ailton Krenak afirmou que sua principal missão é trazer idiomas nativos brasileiros para a Academia, de fundação portuguesa. Ele pretende seguir o projeto do que é feito na Biblioteca Ailton Krenak e traduzir livros e documentos para os idiomas originários.
Ailton Krenak se notabilizou, nos últimos anos, pela defesa do meio ambiente e do clima, da cultura indígena e pelas denúncias contra os crimes ambientais, como o rompimento da barragem da Samarco em Mariana, Minas Gerais. Mas sua liderança é histórica.
Em 1987, Krenak participou da Assembleia Constituinte após a ditadura, e, com o rosto pintado de jenipapo, discursou no Congresso pelo direito dos povos originários. A atuação foi determinante para a criação do “Capítulo dos Índios” na Constituição de 1988.
Participou ainda da fundação da Aliança dos Povos da Floresta e da União das Nações Indígenas (UNI) e foi nomeado doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).