A crise pós-eleitoral na Venezuela teve um novo episódio na quinta-feira (19), quando o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, divulgou áudios que, segundo ele, comprovam que o candidato oposicionista Edmundo González Urrutia aceitou os resultados das eleições presidenciais de 28 de julho, nas quais Nicolás Maduro foi declarado como vencedor.
O advogado de González, José Vicente Haro, criticou a divulgação dessas gravações e alegou que foram capturadas durante “uma emboscada”.
Rodríguez realizou uma conferência de imprensa na tarde de quinta, momentos depois da Assembleia Nacional ter aprovado um acordo para repudiar a decisão do Parlamento Europeu de reconhecer González Urrutia como presidente eleito da Venezuela. O deputado – uma das pessoas mais próximas de Maduro – mostrou uma série de áudios do encontro que ele e a vice-presidente Delcy Rodríguez tiveram este mês com González e outra pessoa não identificada na Embaixada da Espanha em Caracas.
As gravações, que não podem ser ouvidas com clareza, foram exibidas em forma de vídeo, com uma foto de González, uma carta e legendas.
Rodríguez afirmou que esses áudios mostram que González concordou em assinar um documento reconhecendo Maduro como o vencedor das eleições e provam que ele não foi coagido, ao contrário do que indicou o ex-candidato em um vídeo publicado nas suas redes sociais na quarta-feira (18).
Descrição dos áudios apresentados
Uma das gravações reproduz um diálogo que, de acordo com Rodríguez, ocorreu entre González e uma pessoa não identificada, onde, supostamente, González aceita que não buscará chefiar um governo no exílio ou ser um presidente “de plástico” do exterior.
Veja a transcrição abaixo:
Pessoa não identificada: Convém ao país, e acredito que Edmundo pensa o mesmo, que o tema central não seja a invenção de exigir um presidente de plástico ou de papel, de papelão.
Edmundo González: Sim, concordo.
Pessoa não identificada: Isso está claro, e Edmundo tem total clareza. Ele e toda a sua equipe. E, bom, a garantia é que lá em cima está quem manda, e se você não obedecer, ela vai te puxar pela orelha. Depois tem a questão do respeito ao Poder Público, que nem é discutida. Existem maneiras de dizer isso. Existem maneiras de expressar isso com… Podemos tentar algo.
Edmundo González: Quero dormir com esse assunto resolvido.
Rodríguez insistiu que estas gravações mostram que González concordou em reconhecer a vitória de Maduro e acrescentou que, se González persistir em negá-la, revelará outro documento.
“Tenho o documento em minha posse, não me obrigue a publicá-lo, porque estou disposto a fazê-lo. Nesse documento, o senhor González Urrutia pede que seus bens e os de sua família sejam respeitados, que sua casa seja respeitada, e que residências e propriedades que seus filhos, familiares e amigos teham sejam respeitadas”, destacou.
Resposta de advogado de González
Na noite de quinta, em entrevista a Fernando Del Rincón para o programa “Conclusões” da CNN, o advogado José Vicente Haro insistiu, como já tinha feito nos dias anteriores, que o seu cliente não aceitou os resultados e apenas assinou o documento que lhe foi entregue, porque temia pela sua segurança e por não poder partir para Espanha, país onde pediu asilo político.
“Ele foi obrigado a assinar”, declarou Haro, ressaltando que os áudios foram gravados sem o consentimento de González.
“O que vimos hoje foi uma ratificação do que aconteceu ontem e mais ameaças, mais ameaças de continuar revelando documentos, não sabemos a que documentos (Rodríguez) se refere, não sabemos quais documentos são esses. Áudios difíceis até de ouvir, difíceis de entender e que parecem ter sido tirados do terno de uma pessoa. Em suma, algo obscuro, escondido, totalmente uma emboscada que infelizmente foi armada contra Edmundo González Urrutia”, argumentou.
A divulgação destas gravações ocorre dois meses depois das eleições presidenciais na Venezuela, que tanto o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) como a Câmara Eleitoral do Supremo Tribunal de Justiça (TSJ) proclamaram Maduro vencedor das eleições. No entanto, até agora não foram publicados os resultados detalhados.
Vários países e organizações internacionais questionam estes resultados e apontam que existem elementos que sugerem que o verdadeiro vencedor foi González.
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