Uma pesquisa inédita no Brasil revelou que um em cada três adolescentes do país já sofreu algum tipo de agressão sexual online. Desses, 20% receberam ou se depararam conteúdo inapropriado, enquanto 10% foram aliciados ao envio de pornografia infantil. As informações foram divulgadas pela ONG ChildFund Brasil, nesta quinta-feira, em sua sede no centro de Belo Horizonte.
O mapeamento ouviu mais de 8 mil estudantes de até 18 anos em todos os estados do país para buscar padrões no comportamento online e na segurança no ambiente digital. Com esses dados, foi criado o primeiro índice de vulnerabilidade à violência sexual no país, que apontou a região Sul como aquela onde os jovens estão mais expostos a essas agressões.
Cristiano Moura, doutor em Geografia e gerente de programas da ChildFund Brasil explicou sobre as análises regionais e os objetivos desse recorte.
“A região Nordeste e a região Sudeste, elas ficaram bem próximas com um bom desempenho. Depois a Norte e Centro-Oeste, mas o Sul foi bem discrepante e nos chamou a atenção, o que requer um aprofundamento dessa informação. Lembrando que o maior peso desse índice é para os estados de Santa Catarina e Paraná, então aí é necessário investigar: é mais acesso à internet? Essa resposta ainda a gente precisa investigar. Nesse índice, o que que é importante é que a gente não só olha para as grandes regiões, maas a gente pode propor também políticas específicas e entender qual é o fenômeno que ocorre em cada área pra gente propor soluções.”
Ainda conforme a pesquisa, 25% das vítimas afirmaram que os contatos com o agressor começaram por jogos online. No entanto, a maior parte dos adolescentes afirmou se sentir mais insegura nas redes sociais, relatando que 55% dos agressores utilizaram aplicativos de conversas, como WhatsApp e Telegram, para praticar os crimes.
Entre os fatores que influenciam a vulnerabilidade está o gênero. Segundo o levantamento, a maior parte das vítimas são adolescentes que não se identificam com os gêneros feminino ou masculino. Meninas mais jovens também são mais vulneráveis.
A probabilidade de se tornar alvo de um agressor sexual também aumenta conforme o tempo de exposição do adolescente à internet. Aqueles com oito ou mais aplicativos no celular tem quase 100% de chance de já estarem sendo monitorados por predadores.
Já quanto ao perfil dos agressores, a pesquisa aponta que esses são, principalmente, do gênero masculino e 14% deles residem na mesma cidade da vítima.
O objetivo do levantamento, que foi dividido em cinco etapas, é levantar dados para criação de políticas públicas, como apontou Maurício Cunha, doutor em políticas públicas e Diretor de País do ChildFund Brasil.
“A pesquisa tem esse objetivo de oferecer subsídios para gestores públicos e formuladores das políticas. Nessa primeira fase, o relatório já traz algumas recomendações e, quando a gente terminar a quarta fase, a gente vai emitir um relatório e vai disponibilizar para as autoridades para que embase políticas públicas. O Brasil ainda é muito carente, nós não temos ainda uma política nacional, não temos mecanismos de proteção como, por exemplo, na União Europeia já se discute empresas de tecnologias serem obrigadas a informar previamente comportamentos não comuns na internet de determinados indivíduos.”
Os estudos sobre a temática reuniram profissionais multidisciplinares e de diversos países, unindo pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais àquelas da Universidade de Dublin, na Irlanda.
Outros resultados, que buscam cruzar as respostas das vítimas com informações dos agressores e também de adultos sobreviventes de agressões sexuais pela internet, devem ser divulgados em maio de 2025.