A paixão pelo Botafogo vem de berço. Wanderley de Souza Gomes foi o maior botafoguense que o filho, Rodrigo Mancha, conheceu na vida. Ele herdou do pai o amor pela estrela solitária, mas não conseguiu compartilhar com ele a glória que sempre sonharam juntos. Em agosto do ano passado, Wanderley, de 62 anos, sofreu um infarto e morreu. Desde então, Rodrigo, já apaixonado pelo clube, transformou a vida em uma missão: estar ao lado do Botafogo em todos os momentos e realizar o sonho que construiu com o pai.
Rodrigo é presidente da Fogoró, uma das organizadas do Botafogo. Ele coordena caravanas, homenagens, gritos de guerra e cânticos, além de viajar tanto quanto os jogadores. Nos últimos 15 dias, sua jornada foi intensa. Começou em 26 de novembro, no jogo contra o Palmeiras, considerado uma final antecipada do Campeonato Brasileiro. Desde então, Rodrigo passou por Buenos Aires, na final da Libertadores, seguiu para o Rio Grande do Sul, no jogo contra o Internacional, voltou ao Rio para celebrar o título brasileiro contra o São Paulo e, agora, após quase 20 horas de viagem, desembarcou em Doha, no Catar, onde o time disputa a Copa Intercontinental, o antigo Mundial de Clubes.
Rodrigo estima ter gasto mais de R$ 50 mil em todas essas viagens, mas considera o investimento valeu a pena. Em Buenos Aires, na final da Libertadores, ele jogou as cinzas do pai no estádio Monumental de Núñez. Hoje, em Dubai, ele sente que sua missão foi cumprida.
“Eu perdi meu pai ano passado. Prometi pra ele que a gente ia ser campeão da Libertadores. Entrei com a urna dele no Monumental e joguei as cinzas antes do início da partida, dizendo que seríamos campeões. E aí, é isso, é a realização de um sonho. Achei que Deus tinha esquecido da gente no ano passado, mas acho que tudo foi obra do destino pra esse ano. Quem sabe vem aí um título mundial. Minha missão está cumprida”, conta.
Se Rodrigo não viveu o sonho da Libertadores ao lado do pai, hoje realiza esse sonho junto com o filho, Nilton Santos. O menino de seis anos recebeu o nome do histórico jogador do clube.
“Eu pedi a mão da minha esposa no meio do campo, e ela me fez outra surpresa, dizendo que estava grávida. Prometi que, se fosse menino, o nome seria Nilton Santos. É muita coisa junta. Papai do céu preparou um roteiro especial pra gente”, relata.
Rodrigo não está sozinho em Doha. Ele viajou com cerca de 10 amigos para assistir aos jogos. Ele estima que, no total, 500 botafoguenses acompanharão as partidas na próxima semana.
Entre eles está o médico Túlio Cardoso, que não pôde ir à final da Libertadores por causa da prova de residência, mas fez questão de estar no Mundial. Túlio explica que sua relação com o Botafogo é histórica, com seu nome sendo uma homenagem a Túlio Maravilha, que conheceu seus pais em 1994.
“Os clubes do Rio não tinham centros de treinamento e faziam pré-temporadas em hotéis fazendas no interior. O Botafogo foi para São Lourenço, e minha mãe, grávida, jantou com o Túlio na época. Meu nome é por causa dele, antes mesmo do título. Minha relação com o Botafogo vem desde a barriga da minha mãe”, afirma.
O Botafogo joga nesta quarta-feira (11) contra o Pachuca, do México. Se vencer, enfrentará o Al Ahly, do Egito, até alcançar a tão sonhada final do Mundial, possivelmente contra o Real Madrid.