O nome está na boca do Brasil há semanas, virou tema de capa de revista mundo a fora e está no dia a dia, literalmente, de pelo menos 7,3 mil pessoas que chegam ou saem da Pavuna, na Zona Norte do Rio, de metrô. Lá, em um dos maiores bairros cariocas, está a Estação Engenheiro Rubens Paiva. Desde 1998, muito antes do filme ‘Ainda Estou Aqui’, a memória do ex-deputado perseguido e morto pela ditadura militar, é celebrada como forma de que seu legado para aquela região nunca seja esquecido.
Rubens Paiva projetou e construiu moradias populares que existem até hoje na região e que hoje formam um conjunto habitacional que leva o seu nome. Para contar essa e outras histórias de seu trabalho como engenheiro, a Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros e o Sindicato da categoria colocaram um busto dele na estação há 10 anos. Agora, o material da exposição feita à época está online e há uma ideia de contar mais uma vez essa história.
Estação Engenheiro Rubens Pauva. — Foto: Reprodução
“É importante trazer essa memória. Os assassinos dele que sobreviveram, apontados pela Comissão Nacional da Verdade, estão impunes. Ele tinha muito orgulho daquela obra do conjunto, e foi autor de uma lei importante para os engenheiros, que idealizou o salário mínimo para categoria”, explica Olímpio Alves dos Santos, presidente dos Sindicato dos Engenheiros.
Deputado eleito em 1962, Rubens Paiva projetou e conseguiu recursos para a construção de um conjunto habitacional para moradores de baixa renda na Pavuna, à época uma área pobre e vazia da cidade do Rio.
O historiador Paulo Jorge, que é morador da região, lembra que as obras começaram em 1965, primeiro ano da ditadura militar e terminaram entre 1974 e 1975, quando o deputado já tinha sido morto pelo regime.
“O conjunto foi inaugurado como presidente Médici. Rubens Paiva era um inimigo da ditadura, e não poderiam deixar nenhum vestígio da participação dele. O nome só mudou anos depois, quando teve uma reforma e a inauguração da estação do metrô”, afirmou.
Rubens Paiva projetou e construiu moradias populares na região da Zona Norte. — Foto: Historiador Paulo Jorge/ Arquivo pessoal
É inevitável passar pelo busto de Rubens Paiva, que fica a poucos metros das catracas de entrada. Uma pequena placa lembra que o conjunto de casas para trabalhadores ali perto é “referência nacional para projetos de engenheiros no campo da habitação popular”. Além das casas populares na Pavuna, Rubens Paiva também participou da construção de prédios em São Paulo, Bahia e Roraima. Seu escritório tentou – e perdeu – a disputa para elaboração do plano piloto de Brasília.
Dois milhões de brasileiros já assistiram como a ditadura militar sequestrou e sumiu com Rubens, afetando de modo determinante a vida da família. “Ainda Estou Aqui’ traz a história do deputado pela visão de Eunice Paiva, sua esposa, e traz Selton Mello no papel do parlamentar-engenheiro – vira e mexe ele aparece na tela com papéis que remetem ao projeto do conjunto habitacional na Zona Norte.
Além das casas populares na Pavuna, Rubens Paiva também participou da construção de prédios em São Paulo, Bahia e Roraima. Seu escritório tentou – e perdeu – a disputa para elaboração do plano piloto de Brasília.
A importância de guardar a memória
Enquanto a exposição não volta e essas histórias ficam escondidas, o trabalho de salvaguardar a memória do Conjunto Rubens Paiva e da sua importância como engenheiro, divulgar fotos antigas e manter a memória de quem viveu ou está ali, é de páginas no Instagram e Facebook. Sem muita metodologia, mas com o entendimento de que é importante falar de história, páginas como “Pavuna Resiste” e “Memórias do Subúrbio Carioca”, que contam fatos e fotos da Pavuna dos anos 1970 até hoje.
Antes de contar a história da família sob a perspectiva da mãe, Eunice, o escritor Marcelo Rubens Paiva escreveu o clássico ‘Feliz Ano Velho’. Em uma determinada passagem, ele conta sobre como o pai, Rubens, era diligente no cuidado com as casas populares e envolvia toda a família no seu sonho da moradia popular.
“Enquanto alguns pais levavam seus filhos para jogar tênis, o Rubens Paiva levava o Marcelo para Pavuna, um bairro operário da Zona Norte, onde ele estava construindo umas casas populares. Eu adorava, ajudava a fazer cimento, levantar muro, passar argamassa nas paredes…”