O governo chinês criticou duramente a introdução de novos controles de exportação de semicondutores feitos pelos Estados Unidos, que Washington teme que Pequim possa usar para fabricar a próxima geração de armas e sistemas de inteligência artificial (IA).
As novas medidas, reveladas pelo governo Biden, elevaram a temperatura política entre as duas maiores economias do mundo antes da iminente posse do presidente eleito Donald Trump.
O líder chinês Xi Jinping fez da autossuficiência um pilar importante de sua estratégia econômica para tornar a China uma superpotência tecnológica.
Na segunda-feira (2), o Ministério do Comércio dos EUA anunciou restrições à venda de duas dúzias de tipos de equipamentos para fabricação de semicondutores e restrições ao acesso de várias empresas chinesas à tecnologia americana.
O objetivo dos novos controles, informaram autoridades do Ministério do Comércio dos EUA, era desacelerar o desenvolvimento de ferramentas avançadas de IA na China, que podem ser usadas na guerra e minar a indústria de semicondutores doméstica do país, ameaçando a segurança nacional dos EUA e seus aliados.
O Ministério do Comércio da China condenou a medida, acusando os Estados Unidos de “abuso” de controles de exportação e de representar “uma ameaça significativa” à estabilidade das cadeias industriais e de suprimentos globais.
“Os EUA pregam uma coisa enquanto praticam outra, ampliando excessivamente o conceito de segurança nacional, abusando de medidas de controle de exportação e se envolvendo em ações unilaterais de intimidação. A China se opõe firmemente a tais ações”, afirmou o ministério em uma declaração na segunda-feira (2).
Um dia depois, proibiu totalmente a venda de uma série de materiais cruciais para a produção de semicondutores e baterias de veículos elétricos para os norte-americanos.
A exportação de gálio, germânio, antimônio e outros materiais “superduros” não será permitida porque eles podem ser usados para fins militares, segundo o ministério.
A China restringiu a venda de alguns desses materiais no ano passado, à medida que a rivalidade tecnológica entre os dois lados aumentava.
No entanto, havia anteriormente uma opção para as empresas solicitarem licenças especiais para exportar para os EUA, uma brecha que agora parece estar fechada.
A corrida por uma vantagem na tecnologia militar moldou as relações Estados Unidos-China em meio às crescentes preocupações dos americanos sobre uma possível invasão chinesa em Taiwan nos próximos anos.
O Partido Comunista da China, que reivindica a ilha democrática autogovernada como seu território, apesar de nunca a ter controlado, adotou uma postura cada vez mais agressiva em relação a Taiwan nos últimos anos.
Controles “mais fortes de todos os tempos”
Altos funcionários dos EUA também acusaram a China de roubar abertamente um software de Inteligência Artificial, feito nos Estados Unidos, Pequim nega.
“São os controles mais fortes já decretados pelos americanos para degradar a capacidade chinesa de fabricar chips mais avançados”, falou a secretária de Comércio, Gina Raimondo, aos repórteres no domingo (1).
As novas regras incluem restrições à venda de chips de memória de alta transmissão de dados, essenciais para aplicações de ponta, como treinamento de IA generativa, além de novos controles de software e tecnologia.
O anúncio de segunda-feira (2) é a terceira rodada de restrições de exportação impostas a Pequim pelo governo Biden nos últimos anos.
Em outubro passado, o Ministério do Comércio reduziu os tipos de semicondutores que as empresas americanas podem vender para a China, citando o desejo de fechar brechas nas regulamentações anunciadas em 2022.
Em setembro, o Ministério do Comércio propôs separadamente uma proibição da venda ou importação de veículos inteligentes que usam tecnologia chinesa ou russa específica, citando preocupações de segurança.
O novo governo Trump também falou duramente com a China, ameaçando tarifas.
Por sua vez, a China está intensificando a própria meta de dominar tecnologias avançadas do futuro.
Em maio, Pequim anunciou planos para criar o maior fundo de investimento estatal em semicondutores, no valor de US$ 47,5 bilhões.
Com aportes de seis dos maiores bancos estatais do país, incluindo o ICBC e o China Construction Bank, o fundo ressalta o esforço de Xi para reforçar a posição chinesa como gigante da tecnologia.