Em 2 de dezembro de 1944, nascia no Rio de Janeiro a emissora que transformou a forma de fazer rádio no Brasil: a Rádio Globo.
O fundador, Roberto Marinho, queria que a emissora fosse uma extensão dos serviços do jornal O Globo, com o objetivo de promover o desenvolvimento artístico e cultural.
“Foi do surgimento do Globo, quando chegaram ao Rio, grandes sumidades, principalmente musicais, nós fazíamos audições no rádio clube do Brasil e eles ficaram muito satisfeitos que era a primeira vez que se fazia isso em nossa cidade. E me trouxe a ideia de que era necessário que o Globo tivesse uma rádio própria.”
Nos primeiros anos, a programação mesclava radio-teatro, transmissões esportivas e noticiários. Na década de 1950, a Rádio Globo consolidou o tripé que a definiria ao longo dos anos.
E foram muitas notícias históricas narradas nos microfones da Rádio Globo – que ganhou o mundo e foi parar no front italiano durante a Segunda Guerra Mundial para informar sobre o fim do conflito, em 1945.
Em 1954, a Rádio Globo confirmou, em primeira mão, a morte do presidente Getúlio Vargas na voz do jornalista Leo Batista.
A jornalista Ermelinda Rita comandou, entre 1986 e 2020, a área de apuração da Rádio Globo – o coração da notícia. E em mais de 30 anos de carreira, ela afirma que a única coisa que não mudou na rádio, foi o cuidado com os ouvintes.
“Eu comecei com a máquina de escrever e terminei com o iPhone. A gente gravava em gravador de rolo, de fita, essa fita era cortada na hora que se fazia edição. Depois a gente passou para cartucho, depois a gente passou para o MD, do MD para o gravador, do gravador a gente passou para celular. Eu acho que a única coisa que a Rádio Globo não mudou nesse tempo todo é o amor pelo ouvinte. O ouvinte sempre foi a coisa principal da emissora. Ele acabou se tornando um amigo da gente durante esse tempo todo”, afirmou.
A cobertura esportiva também sempre foi um diferencial, com transmissões de jogos de futebol e grandes eventos como a Copa do Mundo. Em 1958, Carlos Lima narrava a primeira estrela da Seleção Brasileira.
Inclusive, nos jogos da Seleção Brasileira, a vinheta Brasil sil sil foi criada nos estúdios da Rádio Globo.
Edson Mauro, narrador histórico da rádio, ingressou na emissora em 1971 – e há mais de cinco décadas, o ‘bom de bola’ segue sendo a voz que marca torcedores país a fora. Edson conta que foi a Rádio Globo que criou o formato das transmissões esportivas como conhecemos hoje.
“A Rádio Globo entrou num processo de inovação que mexeu com todo o rádio brasileiro. O Waldir Amaral oficializou a colocação de dois repórteres, um atrás de cada gol. Waldir Amaral depois botou dois repórteres também entrevistando, cada um entrevistando cada time, criou as entrevistas de vestiário, ele criou o comentarista de arbitragem, que não havia comentarista de arbitragem nas transmissões de futebol. Vinhetas dos clubes, Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, isso aí surgiu na época em que o cantor, o Fábio, ele tinha um grande sucesso que era uma música chamada Stella e essa música na hora em que ele falava, procurando a amada dele, aí ele estava lamentando a ausência da Stella-a-a [com eco]. Aí o pessoal da Rádio Globo, que tinha uma criatividade maravilhosa, chamou o Fábio Vamos transformar o Stella nas vinhetas dos clubes, Flamengo, Vasco, aí foi feito isso e foi um sucesso”, contou.
Em 1973, a Rádio Globo lançou a Globo FM, a primeira emissora brasileira a transmitir em som estéreo.
A música também sempre esteve presente na emissora. Do contrato com a Orquestra Sinfônica Brasileira, na década de 1940, aos programas ao vivo que apresentavam os maiores sucessos populares, a rádio foi responsável por revelar talentos e promover grandes nomes da música brasileira.
Chacrinha, Fausto Silva, Hebe Camargo… todos passaram pela Rádio Globo.
Em 2017, a Rádio Globo decidiu se reinventar com foco no entretenimento e, em 2019, se tornou uma rádio mais musical, dedicando mais espaço na programação para os principais ‘hits’ do momento.
Rádio Globo — Foto: Reprodução
Mas, mesmo com as mudanças, há 80 anos, a comunicação com o ouvinte segue sendo o norte da emissora – só que, agora, em uma linguagem mais direta e coloquial, como explica Fabiano Mello, comunicador da Globo há duas décadas.
“Imagina eu abrindo hoje o Top 10 às 10 em 1944. [falando de forma lenta] Olá, bom dia. Você está ouvindo a Rádio Globo 98.1. A partir de agora, temos o Top 10 às 10 com as melhores da programação. Isso já está muito acelerado. Agora, poxa: começa mais uma edição do Top 10 às 10 daqui, na Rádio Globo! A grande sacada do rádio, na verdade, é você saber qual é a fase que teu ouvinte está. Como é que você consegue a atenção dele? Você tem que falar a língua dele”, explica.
Luciana Domingos, Diretora de Negócios Musicais da Rádio Globo, acredita que o futuro da Rádio Globo é claro: estar sempre ao lado de seus ouvintes.
“A gente está há 80 anos ouvindo o público, entendendo o que ele quer e entregando conteúdo relevante. O nosso diferencial é essa mistura de credibilidade, que vem do jornalismo, com música e entretenimento leve e próximo do dia a dia das pessoas. O futuro da Rádio Globo, sem dúvida, está onde o ouvinte estiver. A gente quer ser cada vez mais digital, sem perder o contato humano que sempre foi a nossa marca. E o objetivo é continuar inovando, interagindo mais de perto com o público e levar conteúdo que conecte, seja no dial, no celular, no computador ou nas redes”, afirma.