Em meio a impasse na COP29 sobre financiamento, o jornalista entrevistado no Revista CBN criticou as prioridades dos países desenvolvidos, chamando a atenção para os grandes montantes de dinheiro dedicados a guerras e o baixo entusiasmo para se comprometer com valores para salvar o planeta.
A COP29, a conferência global sobre mudanças climáticas, continua acontecendo em Baku, no Azerbaijão, reunindo líderes mundiais, organizações da sociedade civil e representantes do setor privado para discutir o futuro das políticas climáticas globais. Programado para se encerrar nesta sexta-feira (22), o encontro foi prorrogado, e um impasse continua neste sábado (23): a questão do financiamento de países ricos para países em desenvolvimento combaterem as mudanças climáticas em seus territórios, considerado o assunto mais importante desta COP.
O jornalista e escritor André Trigueiro, em entrevista Petria Chaves no Revista CBN, fez balanço da conferência até o momento e chamou a atenção para a atitude de países ricos frente à problemática do clima quando se trata de dedicar recursos financeiros às resoluções.
“É fácil discutir metas, dizer o que a gente precisa fazer e de que jeito. Na hora de discutir quem vai pagar a conta, o tempo fecha. Em relação ao clima, do meu ponto de vista, está muito clara a negligência, a meu ver, acintosa dos países ricos, que tem a responsabilidade histórica de financiar os países pobres que precisam imediatamente de recursos para enfrentar o novo normal do clima. Mudou a intensidade e frequência de eventos climáticos extremos e isso tem uma repercussão extremamente negativa do ponto de vista econômico e social. Essa decisão de remunerar –o financiamento — os países pobres foi tomada lá atrás, em 2009, na Dinamarca, na COP-15, em Copenhagen, que por acaso eu acompanhei, estive lá, e lá se assinalou o compromisso daquele repasse, que nunca saiu do papel, de 100 bilhões de dólares por ano dos países ricos para os países pobres enfrentarem o novo normal do clima.”
Trigueiro criticou as prioridades dos países desenvolvidos, chamando a atenção para os grandes montantes de dinheiro dedicados a guerras e o baixo entusiasmo para se comprometer com valores para salvar o planeta.
“Não há como combater a crise climática sem botar valores vultosos para a economia de baixo carbono e proteção das partes menos assistidas do planeta, e os países ricos parecem não ter escrúpulos para financiar e deslocar recursos preciosos para, por exemplo, o conflito na Ucrânia, a partir da invasão da Rússia; ou, no caso dos Estados Unidos, remunerar regiamente Israel para manter o que está acontecendo, que é vergonhoso, é um crime de guerra oficialmente declarado pelo Tribunal Penal Internacional, na faixa de Gaza. Para armas e munições não falta dinheiro, mas para a conferência da biodiversidade, para a conferência do clima, a gente tem testemunhado a ruína do multilateralismo.”
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