No norte do país, chuva acima da média. No sul, calor e estiagem, principalmente no interior. Assim deve ser o próximo verão, que começa daqui a um mês em todo o hemisfério Sul. Essa situação de contraste já preocupa diversos setores produtivos, principalmente o agropecuário, que ainda sofre com os impactos da última temporada de seca e com os temporais do início do ano. Muitos produtores já estão antecipando medidas pra evitar prejuízos com alimentos como arroz e frutas.
Se no verão passado houve influência do El Niño, dessa vez, é a La Niña que vai ditar as regras. Dessa forma, o alerta é para o Norte e Nordeste, que deve sofrer com temporais mais intensos. Depois da tragédia de janeiro, a chuva vai dar uma trégua no Sul, mas a região pode voltar a sofrer com a estiagem prolongada, calor intenso e baixa umidade. É o que explica a meteorologista da Climatempo e especialista em Clima e Mudanças Climáticas Marcelly Sodermann.
“A La Niña é completamente o inverso do que vimos no ano passado, no início deste ano, que foi o El Niño, marcado por um aquecimento anômalo. Qual o impacto disso? Começando pela região Sul, teremos chuvas mais irregulares, com poucos dias de chuva intercalados por períodos secos mais longos. No Centro-Oeste e Sudeste, haverá passagem de frentes frias mais frequentes, com picos de calor ao longo do mês, mas sem o calor intenso e persistente que vimos no último verão. Já nas regiões Norte e Nordeste, o comportamento esperado é de aumento das chuvas, com mais umidade chegando ao longo do verão e precipitações retornando com mais frequência e intensidade”, afirma.
Produtores do Nordeste estão preocupados com o aumento das chuvas por causa dos riscos de fungos e bactérias em frutas como melão e melancia. Foi o que explicou Luiz Roberto Barcelos, diretor da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados, a Abrafrutas.
“Essa expectativa da La Niña preocupa, porque quando há excesso de chuva, isso sempre atrapalha um pouco a produção. Alguns tipos de frutas, como o melão e a melancia, que são rasteiras e têm contato com o solo, sofrem muito com a chuva por causa do surgimento de fungos. Se esse cenário realmente se confirmar, será necessário aumentar as pulverizações preventivas, considerando essa perspectiva de um verão mais chuvoso”, afirma.
No Sul, a seca acende um alerta entre os produtores de arroz. O presidente da federação que representa associações de arrozeiros do Rio Grande do Sul, Alexandre Velho, explicou que a produção de arroz irrigado depende do nível de mananciais e reservatórios.
“Como o arroz plantado aqui no Rio Grande do Sul é irrigado, teoricamente, em um ano mais seco temos mais luminosidade e, consequentemente, maior produtividade. Obviamente, é essencial que não falte água nos mananciais, mas como tivemos um verão passado bastante chuvoso, a maioria dos reservatórios está com bons níveis. Ou seja, há bons indicativos de que teremos uma boa produtividade”, conta.
Além dos impactos econômicos, doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya, também deixam autoridades em alerta. Em outubro, o governo federal lançou a campanha contra a proliferação dessas doenças. O investimento éde um bilhão e meio de reais. Isso porque o Brasil registrou 6,5 milhões de casos prováveis de dengue até 7 de outubro, um aumento de 400% em relação ao ano anterior. Além disso, foram confirmadas 5.250 mortes pela doença, um recorde histórico.
Municípios e estados também vêm se preparando para a nova estação. A cidade do Rio, por exemplo, apresentou o Plano Verão, com investimentos de R$ 3,3 bilhões em ações como contenção de encostas, limpeza de galerias pluviais e uso de tecnologia para monitoramento climático. Além disso, a cidade criou um protocolo de calor que prevê até o cancelamento de eventos no nível máximo.