O Eduardo Gutherz já trabalhava há sete anos no audiovisual quando decidiu mudar completamente a vida profissional para começar carreira em uma nova área: a psicologia.
“Eu não me enxergava mais construindo algo que fosse tanto relevante para mim, pessoalmente, quanto socialmente. Comecei a fazer análise – pela primeira vez na vida, inclusive – e decidi começar uma nova graduação. Foi onde realmente eu me encontrei. Fui entendendo o potencial político que a minha profissão tem, de dar espaço ao sofrimento das pessoas. Acho que tem sido uma enorme realização pra mim”, afirma.
A ciência que estuda a mente e o comportamento dos seres humanos tem despertado cada vez mais interesse – tanto que a faculdade de Psicologia está entre as mais procuradas no país na última década. Dados do Censo da Educação Superior, feito todo ano pelo Inep, mostram que as matrículas na área cresceram 112% entre 2010 e 2021 – passando de pouco mais de 136 mil para quase 290 mil.
No vestibular da Fuvest, realizado este mês, Psicologia foi o segundo curso mais buscado – ficando atrás apenas de Medicina. A concorrência no campus de São Paulo, por exemplo, foi de 70,6 candidatos por vaga.
O aumento na procura pela graduação pode estar relacionado ao mercado de trabalho – com uma demanda crescente por serviços de saúde mental – mas também a uma maior divulgação destes temas, como explica a psicanalista e terapeuta Ana Lisboa.
“Com as redes sociais, a gente começou a normalizar a terapia e afastar todos os tabus de ‘isso não é para mim’, ‘eu não preciso disso’… Através disso, a gente criou uma onda de consciência, que gera consequência – essa é a lei da causa e do efeito. As pessoas passam a ter consciência dos próprios atos e padrões e, assim, vem a busca por curar isso ou compreender isso. Elas preferem muito mais entrar em um curso e se descobrirem para, depois, entrar em um momento de transição de carreira”, detalha.
Foi o que aconteceu com a Carolina Carvalho. Ela conta que cogitou fazer Psicologia quando ainda estava no Ensino Médio, mas acabou seguindo o caminho do Jornalismo. Anos depois, enquanto fazia terapia, decidiu dar chance a esse “antigo amor”.
“A psicologia era um desejo antigo, que tinha ficado de lado desde os meus 17, 18 anos, na época do vestibular. Esse desejo foi ressurgindo a partir de um reencantamento que eu tive pela psicologia, por meio do meu próprio processo de análise. Eu percebi como ele mudou e impactou a minha vida. Eu queria ser um pouco como a minha analista. Até o momento, está sendo bom”, diz.
A pandemia da covid-19, também despertou um olhar mais sensível e cuidadoso em relação à saúde mental, como pontua o psicanalista Christian Dunker, professor da Universidade de São Paulo.
“Há uma expansão das problemáticas ligadas aos nossos estados emocionais e psíquicos. Quais as razões de uma depressão? Muitos estão procurando ou escolheram o curso para conseguirem lidar com o sofrimento psíquico. É uma profissão que transmite um senso de relevância. Pessoas estão ali com a gente, pondo a vida delas. É uma atividade que a gente reputa criativa, ligada ao cuidado, à experiência de intimidade real com o outro”, reforça.
Para ser um psicólogo é preciso ter diploma na área expedido por uma instituição de ensino superior reconhecida pelo MEC e fazer a inscrição no Conselho Regional de Psicologia para obter o registro profissional.