A PF encaminhou ao STF o depoimento prestado pelo tenente-coronel Mauro Cid nesta terça-feira (19), informando que ele foi “contraditório e omisso” em alguns pontos. Isso pode levar à suspensão dos acordos de delação do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo fato de Cid ter não só atrapalhado as investigações, mas também ter omitido e até apagado dados dos celulares.
Ao ter firmado acordo de delação, ele é obrigado a colaborar com os investigadores. Mas cabe a análise do ministro relator, Alexandre de Moraes, decidir ou não pela suspensão do acordo. Isso não anularia as provas, que continuariam valendo no inquérito. Mas Cid perderia benefícios, como redução de pena, prisão domiciliar e uso de tornozeleira eletrônica.
Mauro Cid prestou depoimento nesta terça-feira, no mesmo dia em que a Polícia Federal prendeu militares do grupo especial “Kids Pretos” que planejavam matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF, Alexandre de Moraes, em uma tentativa de golpe de estado. Aos investigadores, Cid disse não ter tido conhecimento da trama que previa o assassinato das autoridades. Mas essa tese não convenceu os investigadores, que dizem que a versão contradiz as provas coletadas.
Cid chegou a sede da PF nesta terça, pouco depois das 14h, e saiu acompanhado do advogado, por volta das 19h. Dessa vez ele foi intimado a falar sobre os arquivos que foram delegados pelo militar pouco antes dele firmar o acordo de delação premiada. As informações só foram recuperadas com ajuda de um equipamento israelense que permite o acesso a arquivos deletados de celulares. A informação foi revelada na semana passada pela colunista do G1, Daniela Lima.
O material agora vai ser anexado ao relatório que trata da tentativa de golpe de 8 de janeiro. Por conta dos novos elementos coletados pela Polícia Federal, o fechamento do relatório dos atos golpistas, que pode resultar no indiciamento de apoiadores de Bolsonaro e do próprio ex-presidente, deve ser adiado em alguns dias. O documento deve ser entregue ao Supremo Tribunal Federal até o fim deste mês.