Fundador do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles fala sobre o perfil do empreendedor da periferia, que tem sido o foco do segundo turno das eleições em São Paulo.
Na reta final da disputa pelas prefeituras de diversas cidades do país onde haverá segundo turno das eleições, a CBN recebe o fundador do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles. Com os âncoras Tatiana Vasconcellos e Fernando Andrade, Renato conversa sobre o perfil do “novo” trabalhador, que trabalha por aplicativo. O empreendedor da periferia tem sido o foco do segundo turno das eleições em São Paulo. Ouça abaixo a entrevista completa:
Falando sobre o perfil de parte da população que vive em comunidades, na visão de Renato Meirelles, a igreja, hoje em dia, é a instituição que mais dialoga com a periferia. Para ele, a veia social, de ajuda mútua entre os fiéis, pode facilitar, inclusive, indicação para empregos ou cursos.
“Hoje, quem dialoga é a igreja. Quem dialoga objetivamente são aqueles brasileiros que, quando está tendo uma enchente, estão reunindo todas as pessoas do bairro para conseguir arrecadar alimentos para aquelas famílias. São as pessoas que estão prometendo a prosperidade através do trabalho. A igreja funciona como capital social dos mais pobres”, analisa. “Quando você entra na igreja, você começa a ter uma indicação de um irmão de fé, indicação para um trabalho, um curso, tem dica de como conseguir o seguro-desemprego. Então tua vida melhora”.
Para Renato Meirelles, esse perfil de trabalhador sempre existiu, mas que conseguiu maior visibilidade graças às plataformas digitais.
“Estamos falando de brasileiros que vão muito além dos entregadores ou dos motoristas de aplicativos. Aquela vendedora de bolo de pote que, na pandemia, não quebrou porque conseguia mandar entregar os seus bolos, os seus quitutes, para um aplicativo de entrega de comida, por exemplo. São brasileiros que sempre existiram, os trabalhadores autônomos sempre existiram, só que graças às plataformas, graças aos aplicativos, começaram a poder oferecer o seu serviço a um número maior de pessoas”, explica.
Ao pontuar os possíveis motivos para o aumento do número desses profissionais no mercado, ele cita a carteira assinada como exemplo.
“São vários motivos. O primeiro é que trabalhar com carteira assinada deixou de ser um sonho para vários brasileiros. Passamos quatro anos sem um aumento real do salário mínimo, esse é um fenômeno que voltou a acontecer tem pouco mais de um ano só. Brasileiros que, muitas vezes, passavam duas horas dentro de um ônibus para ir e voltar para o trabalho. Falando do trabalhador autônomo, quase, de onde vem o dinheiro dele? Da hora de trabalho dele. E quando a pessoa passa muito tempo no ônibus, essa hora de trabalho não é uma hora de trabalho remunerada”, observa.