Vendido e usado ilegalmente como raticida, o veneno “chumbinho” é comercializado abertamente em ruas do Centro do Rio de Janeiro. A reportagem da CBN percorreu alguns locais da capital e não teve dificuldades para encontrar o produto. O preço é um atrativo. Apenas R$ 20 e com direito à promoção: “dois por R$ 30”, disse o ambulante.
Numa mesa improvisada com exposição de venenos para animais como baratas e formigas, o vendedor usa um rato de brinquedo como garoto-propaganda, para chamar atenção. No momento da venda, houve até instruções de como aplicar o produto. Tudo isso ocorre com a presença de agentes da Guarda Municipal, da Secretaria de Ordem Pública e até da Polícia Militar.
Venda de ‘chumbinho’ no Centro do Rio. — Foto: Pedro Bohnenberger/CBN
Chamado de chumbinho por ter formato de pequenas bolas cor de chumbo, o produto foi proibido em 2012 pela Anvisa. A venda e o uso desse veneno são crimes, e quadrilhas se aproveitam do comércio informal para distribuí-lo, colocando em risco a saúde da população. Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, entre 2022 e 2024, 23 pessoas morreram no Rio de Janeiro devido ao envenenamento por chumbinho.
Somente neste, ao menos três casos chamaram atenção. Entre eles, o mais recente ocorreu no dia 30 de setembro. Ythallo Raphael Tobias Rosa, de seis anos, morreu após comer um bombom oferecido por uma mulher desconhecida. O exame toxicológico apontou a presença de chumbinho, e outro menino, Benjamim Rodrigues Ribeiro, de sete anos, também foi intoxicado e morreu após dez dias internado em estado grave.
Em agosto, Vitória Conceição, de 24 anos, morreu após ingerir um milkshake envenenado com chumbinho. O principal suspeito, Deivid Nascimento Santana, ex-namorado de Vitória, é acusado de ter adicionado o veneno ao lanche.
Houve, ainda este ano, outro caso que ganhou notoriedade: o de um homem suspeito de tentar matar o próprio amigo envenenado que foi preso em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Segundo as investigações, a vítima comeu um bombom envenenado com chumbinho, dado pelo suspeito. O homem confessou o crime à polícia. Nesse episódio, a vítima conseguiu escapar e sobreviveu.
A venda de chumbinho é crime e representa um grave risco à saúde pública. Autoridades pedem que a população denuncie qualquer suspeita de comercialização desse veneno à vigilância sanitária.
A CBN aguarda o posicionamento das autoridades sobre a presença de ambulantes vendendo o veneno no Centro do Rio.
Nota da Prefeitura do Rio
O aldicarbe (chumbinho) é um produto banido do Brasil desde 2012. A sua venda é ilegal e constitui um crime. Denúncias devem ser encaminhadas à polícia.
Dentro das suas atribuições, a Secretaria de Ordem Pública vai acionar seu setor de inteligência para levantar mais informações e provas sobre a venda de chumbinho no Centro da cidade. A fiscalização com agentes uniformizados, nesse caso, é prejudicada, pois os vendedores ilegais escodem as mercadorias dos guardas.
O Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e de Inspeção Agropecuária (IVISA-Rio) fiscaliza estabelecimentos legalmente instituídos, como lojas que comercializem produtos agropecuários e veterinários. Nas fiscalizações nesses estabelecimentos, não há histórico de apreensão de chumbinho ou de qualquer produto à base de aldicarbe.