O sócio-diretor do laboratório PCS Lab Saleme — investigado pela contaminação por HIV de, pelo menos, seis pacientes transplantados no Rio após receberem os órgãos — já trabalhou na Secretaria estadual de Saúde do Rio. Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira já foi contratado como funcionário terceirizado da Fundação Saúde, empresa pública que contratou seu laboratório por mais de R$ 11 milhões. A Secretaria estadual de Saúde confirmou à CBN que Matheus Vieira “ocupou cargo administrativo entre os anos de 2021 e 2022.”
O sócio-diretor do laboratório é primo do ex-secretário de Saúde do Rio, Doutor Luizinho, deputado federal e líder do PP na Câmara dos Deputados. Em períodos eleitorais, Matheus Vieira fez campanha para o primo nas redes sociais.
O PCS Lab Saleme foi contratado pela Secretaria de Saúde em dezembro do ano passado, em um processo de licitação via pregão eletrônico no valor de R$ 11 milhões, para fazer a sorologia de órgãos doados. A empresa já tinha outros contratos com a Fundação Saúde, órgão ligado à pasta.
Doutor Luizinho foi secretário de Saúde de janeiro a setembro de 2023, e deixou o cargo três meses antes da contratação do laboratório PCS Lab Saleme.
Em nota, o deputado federal afirmou que conhece o laboratório Saleme “há mais de 30 anos”, mas negou participação no processo de contratação.
Ministério Público apura se houve irregularidades na licitação
O laboratório foi o responsável pelo erro em dois exames, o que culminou na infecção por HIV de seis pessoas que estavam na fila do transplante e receberam órgãos, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.
Segundo o MP, a investigação vai analisar o dano pelo serviço não prestado adequadamente e possíveis irregularidades na licitação, em decorrência dos vínculos mencionados.
O Ministério Público também pediu que a Secretaria de Estado de Saúde envie, no prazo de 15 dias, a cópia do laudo de inspeção da Vigilância Estadual de Saúde no laboratório que ensejou a suspensão de suas atividades, bem como das sindicâncias instauradas a partir das notificações dos eventos adversos de contaminação dos transplantados. E que a ANVISA também forneça, no prazo de 15 dias, a cópia do laudo de vistoria no laboratório.
Os órgãos foram testados pela empresa PCS Lab Saleme, e os resultados deram negativo para o vírus. Mas, a notificação da primeira infecção aconteceu no dia 10 de setembro. Um paciente transplantado apresentou sintomas e reações nove meses após receber o órgão. Depois de inúmeros exames, ele testou positivo para HIV. A Secretaria de Saúde, então, fez uma ‘contraprova’ e identificou o vírus.
O laboratório foi interditado pela Anvisa, ontem, após a agência constatar que o local não tinha kits para realização dos exames de sangue nem apresentar documentos comprovando a compra dos itens.
A Secretaria de Saúde solicitou a interrupção dos serviços prestados pelo laboratório no dia 17 de setembro, uma semana após a notificação do primeiro caso.