A morte de duas crianças envenenadas chocou a comunidade do Morro da Primavera, em Cavalcanti, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O menino Ythallo Raphael Tobias Rosa, de apenas 6 anos, morreu após consumir um bombom oferecido por uma estranha. A situação se agravou quando seu amigo, Benjamim Rodrigues Ribeiro, de 7 anos, também foi intoxicado pelo doce. Ele ficou internado dez dias em estado grave, mas não resistiu e morreu na última quarta-feira.
Quase duas semanas após o ocorrido, a Polícia Civil ainda busca informações para encontrar os responsáveis pelo crime.
O que falta para resolver as investigações?
A investigação já confirmou a tese de envenenamento, a partir de exames realizados pelo Instituto Médico Legal (IML), mas a Polícia Civil ainda está analisando imagens de câmeras de segurança da região na tentativa de encontrar a suspeita que deu os bombons aos garotos. A expectativa é de que algum dispositivo tenha capturado a placa da moto onde estava a mulher ou o rosto dela. Além disso, os agentes buscam testemunhas ou informações através do Disque-Denúncia.
Os investigadores também apuram se o crime foi premeditado, ou se as crianças foram escolhidas ao acaso. Os responsáveis devem responder por homicídio doloso triplamente qualificado, com agravantes de meio cruel, motivo torpe e meio que dificultou a defesa das vítimas, sendo elas duas crianças.
O que aconteceu?
O caso ocorreu no dia 30 de setembro, quando Ythallo brincava na rua com um primo. Uma mulher em uma moto se aproximou e ofereceu os bombons. O primo recusou, mas Ythallo aceitou. Mais tarde, ele compartilhou um pedaço do doce com Benjamim, ao encontrá-lo em seguida. A confirmação de envenenamento foi reforçada por partículas granuladas encontradas no estômago de Ythallo, apontando para o chumbinho, e confirmada por um laudo.
Os dois meninos apresentaram sintomas semelhantes, incluindo vômitos, e foram levados a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região. Enquanto Ythallo não resistiu e faleceu no dia seguinte, Benjamim teve a morte cerebral confirmada pela equipe médica do Hospital Miguel Couto, na Gávea, na última quarta.
O caso pode ter relação com o dia de São Cosme e São Damião?
Segundo fontes ouvidas pela CBN, neste momento está descartado que o crime tenha relação com a tradição de Cosme e Damião. No dia 27 de setembro, a data foi celebrada no Rio. A tradição envolve a distribuição de doces, que costuma acontecer de forma mais intensa em bairros do subúrbio do Rio, especialmente na Zona Norte. O crime aconteceu três dias depois da data, e os investigadores descartam que o episódio tenha conexão com o rito religioso.
Qual a motivação do crime?
A Delegacia de Homicídios da Capital está à frente das investigações, mas ainda não sabe o que pode ter motivado o crime. No momento, as autoridades estão empenhadas em identificar a mulher que ofereceu os bombons. A equipe da delegacia já ouviu diversas testemunhas e está analisando imagens de câmeras de segurança da área, mas até o momento, ninguém foi preso.
Qual a substância usada no crime?
O exame toxicológico do menino Ythallo Raphael Tobias Rosa, que morreu logo após comer o bombom, confirmou indícios de chumbinho no corpo dele. O laudo elaborado pelo Instituto Médico Legal encontrou traços de terbufós, uma substância presente num veneno usado irregularmente contra ratos.
O chumbinho é um produto clandestino, irregularmente utilizado como raticida. Não possui registro na Anvisa, nem em nenhum outro órgão de governo. Geralmente, ele é vendido sob a forma de um granulado cinza escuro ou grafite (“cor de chumbo”).
A compra e venda de chumbinho é crime. É importante denunciar para a vigilância sanitária mais próxima, que é o órgão responsável pela fiscalização.
Quadrilhas de contraventores, que adquirem o produto de forma criminosa (através de roubo de carga, contrabando a partir de países vizinhos ao Brasil ou desvio das lavouras), fracionam e/ou diluem e revendem no comércio informal. Algumas casas agrícolas irresponsáveis também comercializam ‘às escondidas’ este veneno, também agindo de forma clandestina.