Só Guilherme Boulos, do PSOL, esteve presente no debate entre os candidatos a prefeito de São Paulo promovido pela CBN, O Globo e Valor. O atual prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes, do MDB, não compareceu. O candidato do PSOL foi entrevistado por uma hora -como previsto nas regras do debate.
Guilherme Boulos anunciou na entrevista a inclusão de uma proposta de Pablo Marçal, do PRTB, ao dizer que quer dialogar com o eleitor do influenciador.
‘Eu entendo a indignação de você que votou no Marçal com esse cenário e é por isso que, nesse segundo turno, eu vou dialogar com cada um desses eleitores para buscar mostrar para eles que nós temos dois caminhos’.
Segundo ele, as propostas que tratam de empreendedorismo e esporte nas escolas estão sendo consideradas:
‘Nesse segundo turno eu vou dialogar com cada um desses eleitores, inclusive incorporando propostas, o tema dos esportes nas escolas, que ele chamou de escola olímpica, conceito de você integrar o esporte como uma oportunidade para os jovens, para as crianças, para os adolescentes que estão nas escolas municipais’.
O candidato do PSOL foi questionado sobre a aliança com o vice-presidente Geraldo Alckmin, já que em 2012, quando Alckmin era governador, Boulos chegou a ser detido durante uma reitegração de posse, no caso que ficou conhecido como Pinheirinho, em São José dos Campos, no interior paulista:
‘Quem mudou foi o Brasil, né? O que mudou não foi a personalidade das pessoas, nem a minha, nem a dele. O que mudou é que nesse meio tempo surgiu um campo político de extrema-direita marcado pelo ódio, pela violência, e que fez com que setores que pensam diferente se unam para poder enfrentar esse campo. Isso teve em jogo na eleição passada, com a chapa Lula-Alckmin, e isso está em jogo novamente nessa eleição’.
O prefeito e candidato à reeleição pelo MDB, Ricardo Nunes, não compareceu ao debate promovido pela CBN, O Globo e Valor. Boulos aproveitou a ausência para atacar o adversário. Ele acusou, sem provas, Nunes de usar Caixa 2 na campanha.
Por causa do não comparecimento de Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) foi entrevistado por uma hora pela equipe de jornalistas da CBN, O GLOBO e Valor. Participaram as colunistas Vera Magalhães, do GLOBO e CBN, e Maria Cristina Fernandes, do Valor e CBN, e o âncora da CBN, Mílton Jung.
Veja outros destaques:
Hoje o senhor não apoia mais a ocupação de terra como lá naquela época?
‘Em relação ao tema de ocupações, eu tenho o maior orgulho de ter participado durante mais de 20 anos da minha vida num movimento que deu casa para as pessoas, que lutava para que famílias inteiras pudessem ter um teto digno para morar. Milton, eu não sei se você já acompanhou um despejo. Quando tem um despejo e você vê uma mãe, uma família perdendo o último colchão do que ela construiu, perdendo tudo e sendo jogada no desespero na rua, é um dever moral você estar ao lado dessas pessoas. E foi isso que eu fiz ao longo da minha vida toda’.
‘No governo meu e da Marta, a partir de primeiro de janeiro do ano que vem, eu asseguro pra você, Milton, olhando no seu olho e de quem está nos assistindo, será o governo com o menor número de ocupações da história da cidade de São Paulo. Sabe por quê? Porque ocupação de movimento social ocorre quando não tem política de moradia e nós vamos fazer o maior programa de moradia e regularização mundial’.
O senhor teve mais votos em bairros nobres de São Paulo. Sua moderação fez com que o senhor perdesse o voto dos mais pobres?
‘Nosso governo vai ser para todo mundo, até porque combater as desigualdades sociais é bom também para quem mora na Bela Vista, em Perdizes, em Pinheiros, nos Jardins, porque faz uma cidade mais civilizada e mais segura. Agora, eu tenho o maior orgulho, Maria Cristina, de ter ganho também no Campo Limpo, o bairro onde eu moro, no Capão Redondo, no Valo Velho, no Jardim São Luís, no Jardim Ângela, no Piraporinha, no extremo da Zona Sul. Eu tenho o maior orgulho, Maria Cristina, de ter ganho ali em São Mateus, em Cidade Tiradentes, em Guaianazes, no Itaim Paulista, no extremo da Zona Leste. E tenho o maior orgulho de ter ganho também em Perú e no Jaraguá, no extremo da Zona Norte’.
‘Foram esses votos de periferia que permitiram que a gente fosse ao segundo turno, que é o reconhecimento do compromisso que a gente tem com uma cidade que seja mais justa e mais humana’.
Como o senhor pretende alcançar os votos de eleitores do Marçal?
‘Eu quero aqui ter a oportunidade, inclusive, de dialogar com as pessoas que estão nos ouvindo e votaram no Pablo Marçal. Muitas dessas pessoas votaram pelo sentimento de não estar representados na política, muitas dessas pessoas votaram por olhar para a política e, às vezes, ver pessoas que só aparecem lá de quatro em quatro anos para poder fazer promessinha e, às vezes, ver pessoas que estão na política só para ganhar dinheiro e manter privilégios’.
‘Eu entendo a indignação de você que votou no Marçal com esse cenário e é por isso que, nesse segundo turno, eu vou dialogar com cada um desses eleitores para buscar mostrar para eles que nós temos dois caminhos’.
Qual é o caminho para se resolver a questão da falta de habitação na cidade de São Paulo?
‘Para resolver o problema da habitação na cidade de São Paulo nós precisamos atuar em três linhas e é o que eu vou fazer a partir de primeiro de janeiro do ano que vem. Primeiro nós precisamos lidar com a chaga da população em situação de rua. Nós estamos falando de 80 mil pessoas vivendo nas ruas na cidade de São Paulo. Essa é uma questão que não é de esquerda, de direita, é uma questão de humanidade. Você não aceitar que na cidade mais rica do Brasil tenha isso. O que que eu vou fazer? Acolhimento humanizado’.
‘Junto a isso, eu vou atuar para criar uma porta de saída, porque abrigo não é casa. A porta de saída é geração de emprego e renda para essas pessoas’.
É possível conduzir um programa tão ambicioso com essas dificuldades de relacionamento que o PSOL e uma parte do PT, ao longo da revisão do plano diretor, tiveram com a indústria da construção civil e imobiliária?
O que está acontecendo? Vão lá, fazem a demolição de quatro casas, moravam quatro famílias, tinham quatro carros. Constroem um prédio de 20 andares com 40 apartamentos. Onde tinha quatro carros, agora são 40 carros. A rua é a mesma, as condições são as mesmas, isso é insustentável.
‘O que o Ricardo Nunes fez para atender a especulação imobiliária no plano diretor é um crime contra a cidade’.
‘Quem mora no centro expandido sabe disso. Agora está tendo uma polêmica danada com o negócio do túnel Sena Madureira, que é um absurdo, vai desmatar a região, que vai fazer desapropriações por um determinado interesse. Nós vimos no plano diretor esse processo sem nenhuma contrapartida para a cidade’.
‘Ninguém é contra a construção civil não. A construção civil gera emprego para a cidade, arrecada para a prefeitura. O problema é que aqui, como em Nova Iorque, como em qualquer grande metrópole do mundo, tem que ter regra. Não pode ser o vale tudo’.
Guilherme Boulos (PSOL) participa de entrevista com equipe de jornalistas da CBN, O Globo e Valor — Foto: Maria Isabel Oliveira / O Globo
Regras em caso de ausência
No caso de não comparecimento de um dos candidatos, era prevista a realização de uma entrevista de uma hora com o candidato presente ao debate. A regra havia sido divulgada ainda no mês de setembro, quando O GLOBO, o Valor e a CBN anunciaram publicamente a realização do debate de segundo turno.
Desde o início do período eleitoral, os jornais O GLOBO, Valor e a rádio CBN já realizaram sabatinas com os candidatos a prefeito de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo mais bem colocados nas pesquisas.
A série de entrevistas na capital paulista encerrou o projeto no primeiro turno, com as entrevistas de Ricardo Nunes (MDB), José Luiz Datena (PSDB), Tabata Amaral (PSB), Pablo Marçal (PRTB) e Guilherme Boulos (PSOL). As colunistas Vera Magalhães e Malu Gaspar, do GLOBO e da CBN, os âncoras da rádio Débora Freitas e Fernando Andrade, e a colunista Maria Cristina Fernandes, do Valor e da CBN, foram os entrevistadores dos candidatos paulistas.
Confira as entrevistas anteriores: