Agora aos 48 anos de idade, a trajetória no cinema de Fernando Coimbra foi uma ascendente muito rápida. Depois de dirigir alguns curtas, seu primeiro longa, “O Lobo Atrás da Porta”, de 2013, explodiu no país e no mundo. Ele até mesmo chegou a concorrer ao prêmio de melhor direção em primeiro filme no Directors Guild of America. Em 2015, com o mesmo projeto, conquistou como melhor longa de ficção no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.
Pouco tempo depois, em 2017, a carreira do cineasta foi voltada para os Estados Unidos. Até 2024, quando ele retorna com um projeto no Brasil e, assim como seu primeiro grande destaque, para falar sobre o crime.
Em “Os Enforcados”, entretanto, a trama parte menos do particular e vai para uma espécie de dinâmica social da vida criminal no Rio de Janeiro, em especial com o jogo do bicho. Nesse ambiente, o casal Regina (Leandra Leal) e Valério (Irandhir Santos) se vê envolvido em dívidas e traições herdadas da família dele. Uma noite, eles encontram o plano perfeito. Mas, ao executá-lo, são sugados por uma espiral de violência que parece não ter fim.
“Ele foi pensado desde o começo em retratar, muito especificamente, uma elite econômica corrupta brasileira. Por isso, está localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Por isso essa coisa do jogo do bicho, porque é uma contravenção que, de certa forma, é aceita socialmente”, conta Coimbra em entrevista à CBN. “O contexto que ele está inserido tem essa intenção de falar do Brasil, não só do Rio de Janeiro ali. É um recorte para poder falar de uma situação que permeia o país inteiro”.
Cena do filme “Os Enforcados”. — Foto: Reprodução
O diretor conta que a ideia base do projeto foi de “Macbeth”, de William Shakespeare, por ser uma história da ganância de um casal. Porém, ele ficava intrigado não com a figura do protagonista da peça, e sim com a esposa, Lady Macbeth.
Por isso, Fernando Coimbra descreve “Os Enforcados” como, na essência, “um filme sobre casamento”.
“Se pressupõe, em geral, que o casal faz um plano junto. Ou seja, vamos ter filhos? Quantos filhos? Ou não vamos ter filhos? Vamos ter uma casa na praia? Enfim, existem objetivos que são atingidos ou não. Nessa história, eles também tem um plano, de construir uma vida junto, mas em cima de uma crise”, conta.
Essa base dramática junto com o suspense constroem uma espécie de DNA do cinema do artista. Ele conta que foi algo “descoberto”, já que não era sua predileção. Entretanto, agora, parece que viraram sua marca registrada. Não a toa, seu próximo trabalho listado no site do IMDb (uma espécie de banco de dados de filmes) é um… terror. Uma espécie de passo a mais no gênero. “Possession: A Love Story” ainda não tem maiores informações.
Já “Os Enforcados” fará sua estreia nacional durante o Festival do Rio 2024. Ele concorre na Première Brasil em Melhor Longa de Ficção. O filme ainda não tem data de lançamento no Brasil.
Volta rápida ao Brasil?
Entre os trabalhos que realizou nos Estados Unidos, estão o filme “Castelo de Areia”, de 2017, lançado pela Netflix, além de episódios das séries “Narcos”, “Outcast” e “Perry Mason”.
Tanto tempo fora gera o questionamento do que o cineasta pretende para os próximos anos. Segundo ele, apesar dos trabalhos, nunca saiu do Brasil. E nem pretende.
“Eu moro aqui no Brasil, eu nunca mudei para lá. Então falar do meu país, falar dos nossos problemas, das nossas questões, é fundamental para mim. Não consigo não falar disso. Então, a minha ideia é manter mesmo essa alternância, um pé em cada lugar ali para trabalhar, mas sem nunca deixar de fazer coisas aqui”, completa.