Recém-saído de uma semana de eventos diários de contrapropaganda e de um esforço para roubar os holofotes da nova oponente, Donald Trump e sua campanha estão buscando aproveitar esse ritmo na corrida até novembro — com planos de intensificar agressivamente sua agenda, aprimorar habilidades de debate e desenvolver nova estratégia de mobilização nas regiões onde a votação antecipada é importante, disseram fontes familiarizadas com a mudança de estratégia à CNN.
Essa nova abordagem é, por si só, um reconhecimento de que a campanha de Trump tem lutado para se adaptar ao cenário político em rápida mudança após o fim da campanha do presidente Joe Biden, a menos de quatro meses do dia da eleição.
A agenda de Trump daqui para frente será muito mais parecida com a da última semana – quando o candidato republicano visitou um estado-pêndulo diferente a cada dia – do que com os 20 meses anteriores.
Até novembro, espera-se que Trump realize “vários eventos a cada semana, senão diariamente”, disse um assessor, enquanto outro previu que o ex-presidente visitará regularmente dois estados em um dia.
“Pense em um Trump turbinado”, disse um deles. “Estaremos todos a bordo”.
A agenda intensificada ocorre enquanto Trump também se prepara para o debate de 10 de setembro com a vice-presidente Kamala Harris. O ex-presidente está se reunindo discretamente com legisladores republicanos, especialistas em políticas públicas e aliados externos em preparação para o confronto de alto risco.
As “discussões políticas” – a versão da campanha de Trump de preparação para debates – em grande parte espelham as sessões que o ex-presidente realizou nas semanas que antecederam seu debate de 27 de junho com Biden, segundo fontes familiarizadas com as reuniões disseram à CNN.
“Não será diferente desta vez. Funcionou bem para ele na última vez. Se não está quebrado, não conserte”, disse um assessor de Trump.
Trump, que tem aversão à preparação tradicional para debates e argumenta que não precisa de preparação formal, como participar de debates simulados, prefere estudar seu oponente e ajustar suas mensagens de maneira mais informal, acrescentou o assessor.
Por exemplo, a ex-deputada do Havaí, Tulsi Gabbard, tem trabalhado com Trump nos bastidores para ajudá-lo a entender o estilo de debate de Harris.
Gabbard foi uma das concorrentes democratas à presidência em 2020 que desafiou Harris no palco do debate. Os assessores de Trump acreditam que os ataques de Gabbard a então senadora Harris – particularmente o escrutínio de seu histórico como promotora – ajudaram a minar a candidatura de Harris.
Embora sempre era esperado que Trump aumentasse sua atividade de campanha após as convenções, o ritmo acelerado planejado para as próximas semanas vai muito além das preparações anteriores e é uma resposta direta ao aumento de entusiasmo dos democratas desde que Harris substituiu Biden no topo da chapa, disseram fontes familiarizadas com os planos à CNN. A agenda de Trump nesta semana é um exemplo claro.
Na segunda-feira (26), o ex-presidente falará na conferência da Associação da Guarda Nacional em Detroit; na quinta-feira (29), ele viajará para o Michigan para um discurso sobre a economia antes de participar de um fórum em Wisconsin naquela noite. Na sexta-feira (30), ele realizará um comício na Pensilvânia e, em seguida, irá a Washington, DC, para falar na cúpula “Joyful Warriors”, organizada pelo grupo conservador Moms for Liberty.
Enquanto isso, os pesquisadores de opinião de Trump, Tony Fabrizio e Travis Tunis, divulgaram um memorando no sábado (24) prevendo um aumento nas pesquisas pós-convenção para Kamala Harris, com Fabrizio atribuindo isso em grande parte à cobertura favorável da mídia sobre a vice-presidente.
“A outra coisa a ter em mente é que, enquanto a mídia vai focar nas pesquisas nacionais, precisamos manter o foco – que são as pesquisas em nossos estados-alvo”, dizia o memorando. “Nosso objetivo é alcançar 270 [votos eleitorais], e vencer nesses estados é como faremos isso”.
A agenda acelerada de Trump também segue um período difícil de sua campanha. A resposta errática do ex-presidente à mudança de oponente desencadeou uma onda de discussões sobre a estratégia para essa nova realidade. Aliados próximos advertiram Trump a focar em políticas em vez de ataques pessoais e o incentivaram a se apresentar mais frequentemente aos eleitores.
Até mesmo sua escolha de onde realizar eventos – visitando o estado fortemente republicano de Montana e o solidamente democrata de Nova Jersey, enquanto deixava lacunas de um mês entre as paradas em estados-chave – às vezes deixava os republicanos perplexos.
Agora, a campanha de Trump vê o período após a Convenção Nacional Democrata como uma corrida total até novembro, disseram à CNN vários conselheiros seniores. A equipe do ex-presidente recentemente reforçou sua operação política adicionando novos assessores, incluindo o primeiro gerente de campanha de Trump em 2016, Corey Lewandowski, para ajudar na abordagem.
Daqui para frente, Trump se concentrará nos campos de batalha onde as cédulas por correio em breve serão enviadas e os locais de votação antecipada serão abertos primeiro, incluindo Carolina do Norte e Pensilvânia, bem como estados inclinados para um partido ou outro, como Minnesota e Flórida.
A campanha de Trump também planeja fortalecer suas equipes em campo nesses estados, além de mobilizar substitutos para realizar eventos de incentivo ao voto.
Como fez na última semana, espera-se que Trump realize eventos menores – além de seus comícios maiores – centrados em mensagens personalizadas, na esperança de que algumas limitações possam ajudar a campanha a focar melhor seu candidato. Ao contrário dos comícios amplos e prolongados de Trump, essas paradas ocorrerão em locais mais íntimos, com menos pessoas e – como muitos de seus aliados esperam – um foco mais nítido.
As limitações desses esforços, no entanto, ficaram cada vez mais aparentes ao longo da última semana. Aqueles que conhecem melhor o ex-presidente há muito reconhecem que a inclinação inata de Trump de se desviar do roteiro e expressar suas queixas não pode ser mudada.
“Ele tem 78 anos e nunca foi alguém facilmente controlável”, disse um aliado de Trump à CNN.
Durante uma parada na Carolina do Norte, marcada como um discurso sobre segurança nacional, Trump fez uma enquete com a plateia sobre se eles queriam que ele continuasse a lançar insultos contra seus oponentes ou se concentrasse em políticas. Quando ficou claro que eles preferiam a primeira opção, Trump zombou de sua própria equipe.
“Meus assessores estão demitidos”, brincou ele, e depois acrescentou: “Não, preferimos manter o foco em políticas, mas às vezes é difícil quando você é atacado de todos os lados”.
Durante um discurso em Michigan sobre segurança pública, Trump desviou para mais ataques à Kamala Harris, sem tocar nas políticas que sua equipe havia compartilhado com os repórteres antes de seus comentários, incluindo uma proposta para executar estupradores e traficantes de crianças.
Quando questionado sobre por que Trump não anunciou as novas políticas antecipadas por sua campanha, um oficial da campanha disse que o ex-presidente estava “guardando essas” para depois da Convenção Nacional Democrata.
Ainda assim, a semana de eventos marcou um dos períodos mais ativos na campanha de Trump em sua terceira candidatura à Casa Branca. Desde que concluiu efetivamente a indicação republicana em março, Trump manteve um calendário de campanha notavelmente leve, realizando um ou dois comícios por semana e passando longos períodos fora da vista do público.
É uma agenda que não parecia problemática para Trump quando seu oponente era um impopular titular de 81 anos que lutava para atrair audiências. Mas com Harris e seu companheiro de chapa, o governador de Minnesota Tim Walz, espalhando-se pelos campos de batalha e atraindo grandes multidões, uma mudança se tornou necessária.
Fator Vance
Espera-se que o senador de Ohio, JD Vance, também assuma uma agenda mais vigorosa nas próximas semanas, disse uma fonte familiarizada com seus planos à CNN.
O companheiro de chapa de Trump visitará todos os principais colégios eleitorais, com foco particular nos três estados que compõem o chamado “muro azul” que Trump venceu em 2016, mas perdeu para Biden em 2020: Michigan, Wisconsin e Pensilvânia – este último que Vance deverá visitar com mais frequência do que qualquer outro estado, disse a fonte.
A ideia por trás desse foco específico é que o histórico de Vance crescendo no sudoeste de Ohio fortalece sua ligação com os eleitores do Cinturão da Ferrugem. Ele deve continuar os esforços para conectar a epidemia de opioides à imigração.
Os planos para Vance são em parte uma reação direta ao seu desempenho na campanha, que pessoas próximas ao ex-presidente dizem ter encantado Trump, apesar do início incerto de Vance, marcado por críticas a clipes ressurgidos dele criticando “mulheres solteiras que cuidam de gatos” e sugerindo que pais deveriam ter mais poder de voto.
Em conversas recentes, Trump se referiu ao seu companheiro de chapa como um “atleta político”, disseram duas pessoas com conhecimento direto da observação à CNN, e expressou o desejo de que Vance se aproxime dos eleitores e da mídia o mais frequentemente possível.
Espera-se que Vance continue sendo uma presença regular nos programas de notícias matinais de domingo, disseram essas pessoas, além de participar de mais podcasts de formato longo destinados a alcançar públicos mais jovens.
*Com informações de Kit Maher, da CNN.
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